Uma fotografia sobre o ecossistema Indie Hacker
Já escrevi tanto conteúdo sobre Micro-SaaS e a comunidade que nunca tinha parado para pensar que eu poderia trazer um pouco mais sobre a história da comunidade que me inspira tanto na construção deste projeto e da comunidade
Portal IndieHackers.com
Indie Hackers
Indie = “Independent”. Ou seja, você contra o mundo. Uma banda de uma pessoa.
Hacker = Habilidades técnicas e criativas para resolver problemas.
A comunidade Indie Hackers é composta por esses empreendedores que compartilham conhecimentos, experiências e aprendizagens para ajudar uns aos outros a ter sucesso em seus negócios, almejando a independência financeira e a liberdade para trabalhar em seus próprios termos.
São empreendedores solitários que constroem negócios digitais, ou seja, são donos de 100% do negócio, sem investidores ou VCs (um negócio bootstrap). Pode-se dizer que adotam um estilo de vida transparente e independente.
Em 2016, Courtland Allen iniciou um projeto pessoal para compartilhar as histórias dos empreendedores independentes.
Allen, programador e empreendedor de sucesso, encontrou-se insatisfeito com a falta de transparência e honestidade na cena das startups do Vale do Silício.
Ele decidiu criar o Indie Hackers como uma plataforma para mostrar como as startups podem ser criadas de maneira mais autêntica, sustentável e transparente.
A soma desses valores atraiu muitos empreendedores insatisfeitos com o cenário das startups, e rapidamente se tornou uma comunidade vibrante e acolhedora para empreendedores independentes em todo o mundo.
Por meio de fóruns, entrevistas e eventos, os membros compartilham seus sucessos e fracassos, além de dicas e ferramentas para ajudar uns aos outros a alcançar seus objetivos.
O sucesso da comunidade levou à aquisição do Indie Hackers pela Stripe em 2017, mas Allen permaneceu como o rosto visível da comunidade e manteve a independência editorial do site.
Paralelamente a esse movimento, a comunidade independente começou a construir produtos pela internet visando buscar a liberdade financeira e intelectual; assim, surgiram os Micro-SaaS.
Nascimento do termo Micro-SaaS
O termo foi cunhado logo em seguida por um empreendedor da comunidade Indie, Tyler Tringas, também fundador de uma startup frustrado com o jogo de captação de investimento e crescimentos abusivos.
O conceito do Micro-SaaS acabou casando perfeitamente com o modelo Indie de ser (tornou-se um estilo de vida). Alguns motivos:
- Baixo custo inicial: Com as ferramentas atuais, qualquer um pode construir e lançar um Micro-SaaS com custo baixo ou quase nenhum custo.
- Foco em nichos de mercado: Nichos muito pequenos para empresas tradicionais são minas de ouro para os Indie Hackers.
- Maior autonomia e controle: Poder criar um negócio enquanto viaja o mundo se tornou o sonho de qualquer Indie Hacker. Sem investidores. Sem funcionários. Apenas você e seu negócio.
- Rápido desenvolvimento e lançamento: Lançamentos velozes, experimentações ágeis, proximidade dos clientes, ferramentas no/low-code – tudo é possível de ser feito rapidamente e, se necessário, pivotar com agilidade.
- Escalabilidade e flexibilidade: Software é altamente escalável. À medida que o negócio cresce, o empreendedor pode se adaptar sem precisar aumentar estrutura ou custos.
- Fonte de renda recorrente: A grande maioria dos Micro-SaaS são softwares de assinatura. Ter essa previsibilidade de receita cria um fluxo de renda estável e sustentável.
- Equilíbrio entre a vida pessoal e profissional: Um Micro-SaaS, quando estabelecido, pode exigir menos tempo e esforço para ser gerenciado em comparação a um negócio tradicional ou a uma startup. Isso ajuda os empreendedores a alcançarem um melhor equilíbrio entre suas vidas profissional e pessoal.
O ambiente Indie Hacker
A comunidade Indie Hackers tornou-se um ambiente destinado a apoiar empreendedores individuais e pequenas startups, criando um ecossistema completo baseado na interação entre os membros, troca de experiências sinceras e networking. Este ecossistema é livre de ego, investidores e está fundamentado na transparência.
O modelo de negócio da comunidade foi estruturado em torno de um fórum online, no qual os usuários podem fazer perguntas, obter feedback, e discutir ideias e desafios de negócios. Isso permite que os membros da comunidade ofereçam suporte uns aos outros, mesmo que estejam em estágios diferentes de suas jornadas empreendedoras.
Ao longo do tempo, essa comunidade ganhou força em várias redes sociais, especialmente no Twitter, através do conceito de #BuildinPublic – atualmente, milhares de Indie Hackers estão desenvolvendo projetos nessa plataforma.
Fiz um vídeo recentemente bem legal sobre este tema.
Em busca do Ramen profitability
De maneira geral, o conceito surgiu na comunidade como uma forma de estimular os empreendedores a pensar e construir seus Micro-SaaS dando pequenos passos de cada vez.
Essa ideia é inspirada no conceito japonês do macarrão instantâneo “ramen”, que é barato e serve como alimento básico para estudantes e empreendedores (risos).
A meta dos Indie Hackers ao lançarem seus Micro-SaaS é atingir a lucratividade do Ramen, ou seja, alcançar um marco de receita pequeno o suficiente para pagar algumas despesas básicas, como supermercado, aluguel ou a escola dos filhos.
A mensagem
Construir um produto com baixo ou zero custo, e crescer ele lentamente pensando em pequenas metas, como pagar uma conta, por exemplo.
Expansão do termo pelo mundo
Com o passar do tempo, a comunidade Indie Hacker se tornou a maior comunidade de empreendedores independentes no mundo.
Realizei diversas pesquisas mas não consegui encontrar um número exato de membros da comunidade, mas arriscaria que há algo em torno de 1 milhão de empreendedores em todo o mundo (fonte: meu palpite).
Além do conteúdo e do engajamento via BuildInPublic no Twitter, a comunidade expandiu-se em termos de negócios e conteúdo, tornando-se um estilo de vida na prática.
Podcasts, canais no YouTube, revistas e cursos estão disponíveis no ecossistema. O que se pode imaginar, alguém está fazendo. A verdade é que o estilo Indie de ser, tornou-se um estilo de vida que muitos empreendedores começaram a almejar. Principalmente por construir algo para si e aprender novas habilidades ao longo do caminho.
Esse estilo de vida se tornou ainda mais comum devido aos desafios enfrentados pelas startups. Muitos fundadores, frustrados com os modelos de crescimento a qualquer custo ou pela carga emocional que demanda construir um negócio de alto crescimento, estão usando suas experiências e sonhos para desenvolver projetos mais tranquilos – para si, e não mais para investidores.
Inclusive, Tyler criou um fundo para investir nesses negócios mais calmos.
Hoje, os encontros da comunidade acontecem no mundo inteiro quase todos os dias.
As Startups e os Indie Hackers
Esses dias, fui apresentado a um CTO de uma startup. O rapaz trabalhou como CTO por vários anos e, devido à recessão do mercado, sua startup não conseguiu mais investimentos. Isso resultou em um burn-out, e ele acabou saindo do negócio.
Infelizmente, essa história não é tão incomum. Por outro lado, já ouvi casos de sucesso nos quais o CTO (coincidentemente) vendeu sua operação para uma grande empresa e acabou se tornando líder de uma área com mais de 900 pessoas sob sua gestão.
Construir uma startup é um desafio incrível e uma jornada repleta de aprendizados. Você se gradua com louvor na universidade da vida e dos negócios. É um ecossistema fascinante. Porém, a que custo?
Aceleradoras, pitchs, rodadas de negócios, inovação, vendas, investidores, equipes grandes, prestígio, reputação, riqueza, impacto gigantesco e assim por diante. São tantas possibilidades, mas, infelizmente, é uma realidade reservada a poucos. Eu discuto bastante essa tese neste artigo também.
A verdade é que quem sabe montar uma startup tira de letra construir um portfólio de Micro-SaaS com 1/12 do trabalho. Por este principal motivo, muitos empreendedores estão mergulhando de cabeça no ecossistema Indie.
7 diferenças entre um negócio Indie bootstrap vs uma Startup
- Lucro é king: É a única coisa que importa para o empreendedor Indie Hacker no final do dia.
- Velocidade é a queen: Você não tem caixa para 12 ou 16 meses. Na verdade, você não tem caixa algum. Seu caixa é sua velocidade de execução.
- B2B em vez de B2C: A verdade é que montar negócios para B2C exige bastante investimento para crescer, adquirir clientes e suporte. O Indie Maker raramente tem essa disponibilidade financeira e de tempo.
- Produtos simples: Quanto mais nicho e simples for o produto, mais fácil é uma pessoa administrar tudo sozinha, principalmente como um projeto paralelo (side project).
- Várias apostas: Micro-SaaS é um jogo de números. Quanto mais você apostar, maior sua chance de ganhar. Essa é a beleza de ter um portfólio de pequenas apostas.
- Impacto vs liberdade: Uma startup monta um negócio de alto impacto, e um Micro-SaaS dificilmente vai causar tanto impacto como ela. Mas essa troca, para alguns, vale a pena.
- Lifestyle business: Indie Hackers tendem a construir pequenos negócios e curtir a jornada. São negócios que não precisam dobrar de tamanho todo ano. Mas isso não significa que não podem vender a empresa por milhões também.
Em suma, empreendedores Indie buscam um estilo de vida mais equilibrado e voltado para a liberdade, em vez de perseguir o crescimento e o impacto desenfreados das startups tradicionais. Eles constroem negócios mais enxutos, focados em lucratividade e, muitas vezes, com um portfólio diversificado de Micro-SaaS para aumentar suas chances de sucesso…Um gentil lembrete. Construir um Micro-SaaS ou uma Startup, no final do dia, não vai aumentar automaticamente sua chance de sucesso. É verdade que a barreira de entrada é menor para um negócio bootstrapped, mas isso não significa que ele tenha mais chances de sucesso do que uma startup com investimento. A maior diferença talvez esteja na estratégia de diversificação: empreendedores Indie podem optar por não colocar todos os ovos em uma única cesta, enquanto uma startup geralmente foca em um único projeto.
Ambos os caminhos têm seus próprios desafios e recompensas. Decidir entre construir um Micro-SaaS ou uma Startup depende dos objetivos pessoais, estilo de vida e tolerância ao risco de cada empreendedor. Independentemente da escolha, é essencial lembrar que o sucesso não é garantido; esforço, persistência e adaptabilidade são fundamentais para prosperar em qualquer cenário de negócio.
A ilusão da receita passiva
Muito empreendedor acha que construir um Micro-SaaS, um funil de marketing e colocar tudo no piloto automático vai gerar dinheiro enquanto ele dorme. Isso é uma ilusão.
O ecossistema de startups usa uma expressão chamada “Default Alive” (vivo por padrão), ou seja, estão buscando apenas sobreviver este momento. E um Micro-SaaS não se diferencia disso.
O empreendedor precisa acompanhar o mercado, garantir atualizações e manutenção no geral. Sem contar o suporte que costuma tomar tempo, e provavelmente alguma coisa vai quebrar no caminho. Pode até tomar pouco tempo por dia, mas se você não investir nele, ele vai morrer.
Renda passiva não existe. Tudo precisa de trabalho. Se você conhece algum empreendedor que vive de renda passiva, pode ter certeza que ele está mentindo.
Ser um Indie Hacker toma tempo
Você não tem grana para investir em marketing, contratar um designer, ou ter uma pessoa para te ajudar no suporte ou desenvolvimento.
A verdade é que construir um Micro-SaaS é o oposto de ir rápido. Uma coisa é lançar um produto rápido, outra é crescer o negócio rápido.
Ser um Indie Hacker significa trabalhar de forma consistente e perseverante, mesmo que os resultados não sejam imediatos. Você deve estar disposto a aprender, adaptar-se e estar preparado para uma jornada lenta, mas significativa.
O sucesso chega, mas não vai ser aquele sucesso da noite para o dia. Talvez você consiga ir viral, talvez você receba uma oferta de compra, mas a verdade é que escalar faturamento é um processo lento e de muita consistência.
A realidade é que ao estudar o ecossistema Indie, para escrever este artigo eu cheguei a conclusão que a maior parte da receita dos empreendedores não vem exclusivamente do seu Micro-SaaS, mas sim de produtos agregados como: vender cursos, planilhas, ebooks, consultoria, entre outros.
Não podemos nos iludir.. Viver da própria renda do seu projeto toma tempo.
Apenas uma pequena parcela da comunidade vive de renda do seu projeto.
Referências de Indie Hackers no ecossistema
Alguns dos meus favoritos:
- Andrew Pierno
- Dagobert Renouf
- Peter Levels
- Courtland allen
- Mike Rubini
- Bhanu Teja
- Marie Martens
- Dan Kulvok
- Arvid Kahl
Eu uso exclusivamente meu Twitter para acompanhar o ecossistema Indie Hacker. Se você quiser, abra meu perfil, vá na lista de pessoas que eu sigo e construa a sua própria lista.
Bem, acho que me estendi um pouco aqui. O artigo até estourou o tamanho permitido por email, e sinto que podia continuar escrevendo muito mais.