Founder Mode vs Manager mode
Você já ouviu falar do Paul Graham? O cara é uma lenda viva. Fundador da YC (Y Combinator), maior aceleradora de Startups do mundo, ele é um dos empreendedores mais respeitados do Vale do Silício.
Este conteúdo repercutiu bastante no ecossistema de Startups e carrega lições valiosas sobre empreender.
Em setembro deste ano, aconteceu um encontro dos founders da YC e, como de praxe, alguns grandes nomes são convidados para palestrar. Nesse evento, em especial, o palestrante principal foi Brian Chesky, fundador e CEO do AirBNB.
Essa palestra foi muito marcante, e repercutiu em todo o ecossistema.
Paul escreveu um artigo sobre o tema, e achei interessante trazer o conteúdo adaptado para vocês.
São essas lições de negócios que nos tornam empreendedores melhores.
Como escalar grandes empresas
Brian Chesky palestrou sobre como o modelo de gerenciar grandes empresas não funciona e está incorreto.
O empreendedor conta que, com o crescimento do AirBNB, vários advisors, mentores e investidores bem intencionados deram conselhos sobre como Brian deveria rodar sua empresa de uma forma que suportasse a escala.
Brian Chesky.
Os conselhos podem ser resumidos de forma simples:
“Contrate gente boa, e dê espaço para elas fazerem seus trabalhos.”
Mas, ao fazer isso, os resultados foram desastrosos e, por isso, Brian precisou sair em busca de soluções por conta própria – caminho que o levou a estudar sobre como Steve Jobs rodou a Apple. Brian, então, aplicou o formato de gestão da Apple no AirBnB, o que aparentemente vem funcionando, já que o AirBnB se tornou uma das empresas com maior cash-flow no Vale do Silício.
Na ocasião da palestra, a maior parte da audiência era composta por fundadores experientes, e que também reportaram ter passado por dificuldades semelhantes, com conselhos semelhantes.
A conclusão a que chegaram foi que este conselho acabou causando mais danos do que ajudando, efetivamente.
Founder mode vs Manager mode
“Mas, por que, então, todos estão dando conselhos errados para os empreendedores?”
Paul Graham fez essa pergunta a si memo, por um tempo. Mas, depois de pensar um pouco, chegou a uma conclusão.
A resposta é simples: aqueles que estavam dando esses conselhos para os empreendedores não tinham construído grandes empresas. Eram, todos, executivos e administradores profissionais, mas, não fundadores.
Na opinião do Graham, existem coisas que fundadores podem fazer e que administradores e gestores não podem. E, pelo fato de não fazerem essas coisas, os empreendedores sentem que falta algo, isso porque falta mesmo.
De acordo com Paula Graham, existem duas formas de você gerir efetivamente uma companhia:
- Founder mode;
- Manager mode.
Até o momento, a maior parte das pessoas do Vale do Silício vem assumindo que, para escalar uma Startup, é preciso ativar o manager mode, quando, na realidade, as empresas precisam do founder mode.
Até o momento, não existe nenhum conteúdo no mercado sobre founder mode.
Escolas de negócio nunca ouviram falar sobre isso. Não existem livros sobre o assunto, e o que sabemos é através de founders experientes que estão descobrindo as respostas por conta própria.
O jeito que os gestores e administradores são ensinados a administrar empresas é com base no modelo tradicional de gestão, ou seja, tratar o negócio como árvores de gestão, em que cada pessoa tem um papel dentro da companhia.
- Você tem um papel, uma responsabilidade e, acima de você, existem outras pessoas, que passam mais responsabilidades e cobram as outras;
- Você não entra nos detalhes de como as atividades são executadas, porque isso é microgerenciamento, e microgerenciar é ruim.
Contratar pessoas boas e dar espaço para elas parece um plano maravilhoso, mas, na prática, ao entender melhor os fundadores, Graham percebeu que, muitas vezes, os profissionais “seniores” são excelentes em “mascarar resultados”, e acabam afundando as empresas.
Quebra de paradigma de subordinação
Uma das questões percebidas por Graham, na fala do Brian, e ao conversar com outros empreendedores após o evento, é que os fundadores são manipulados (gaslight) por ambos os lados.
O fundador escuta um grupo de pessoas dizendo que ele deve administrar sua empresa como executivo. E as pessoas ao seu redor, se discordam de sua posição, fazem com que, por padrão, o empreendedor acredite que está sendo enganado.
Mas, a realidade é que os investidores, em sua grande maioria, nunca foram fundadores e não sabem como fundadores devem administrar empresas.
Uma das lições que Paul tirou da palestra de Brian é que o founder mode vai quebrar bastante o princípio de que o CEO deve se envolver com a empresa apenas por meio de seus subordinados diretos. Reuniões de “skip-level” (pular hierarquia) serão cada vez mais frequentes, em vez de uma prática incomum.
Steve Jobs – founder mode
Um exemplo que Paul cita em seu artigo é o retiro anual da Apple.
Steve Jobs costumava realizar um retiro anual com aqueles que ele considerava serem as 100 pessoas mais importantes da Apple, e essas não eram as 100 pessoas mais altas no organograma.
Você consegue imaginar a força de vontade necessária para fazer isso em uma empresa média? E, ainda assim, imagine o quão útil algo assim poderia ser.
Isso poderia fazer uma grande empresa parecer uma Startup. Steve provavelmente não continuaria a realizar esses retiros se eles não funcionassem.
Mas, eu nunca ouvi falar de outra empresa fazendo isso. Então, é uma boa ideia ou uma má ideia? Ainda não sabemos. Isso mostra o quanto ainda sabemos pouco sobre o founder mode (modo fundador).
Founder mode para grandes empresas
Obviamente, os fundadores não podem continuar administrando uma empresa de 2.000 pessoas da mesma forma com que faziam quando a empresa contava com 20 colaboradores. Certamente, deve haver algum grau de delegação.
Onde exatamente as fronteiras da autonomia terminam, e quão nítidas elas são, provavelmente variará de empresa para empresa. Isso, inclusive, mudará de tempos em tempos, dentro da mesma empresa, na medida em que os gerentes conquistarem confiança.
Portanto, o “modo fundador” é mais complicado do que o “modo gerente”. Mas, também, funcionará melhor. O desafio encontra-se no fato de que os empreendedores estão precisando encontrar seu próprio caminho nesse processo.
Uma das previsões de Paul Graham é que os fundadores que hoje são vistos como “excêntricos” pelo mercado provavelmente já foram lá e fizeram seu founder mode.
Veja o que os fundadores já realizaram e, mesmo assim, eles conseguiram isso enfrentando uma maré de conselhos ruins.
“Imagine o que eles farão quando pudermos dizer a eles como administrar suas empresas como Steve Jobs, em vez de John Sculley.”
A segunda previsão, não tão otimista, é que, assim que o founder mode se tornar um tema de maior conhecimento, as pessoas vão usar esse modo de gerenciar de forma errada. Fundadores que não sabem delegar vão usar isso como desculpa. Ou, gerentes e diretos vão tentar agir com o founder mode, quando não é seu papel.