A habilidade de simplificar negócios
Estou lendo um livro chamado Sem esforço, do Greg Mckeown, também autor do best-seller chamado Essencialismo.
Nesse livro, ele aborda várias questões a respeito de como enxergar cenários complexos de forma mais simples, e como nosso esforço, às vezes, pode não ter sentido.
A arte de simplificar através da perspectiva dos usuários
No livro, no capítulo chamado Simplificar, o autor conta duas histórias que me inspiraram a fazer este artigo.
Comprar com 1-click
Em 1998, logo no começo da Amazon, Bezos chamou seus dois primeiros funcionários para almoçar. Um deles era Peri Hartman, CTO da Amazon.
Bezos acreditava que um dos motivos que levava as pessoas a comprarem menos era o fato de haver muitos passos até a compra ser finalizada. Várias páginas de cadastro, solicitando dados pessoais, endereço, cartão de crédito, etc.
Assim, ele entendia que quanto mais complexo fosse o processo de compra, menos as pessoas chegariam até o fim. Então, ele deu à Peri a missão de diminuir o esforço dos usuários para realizar uma compra.
Peri, então, passou 3 meses melhorando todo o processo de compra, embora ainda não tivesse muita clareza do que seria essa “simplificação” do processo, afinal, nenhum concorrente fazia algo parecido.
Até que, finalmente, pensando na perspectiva do cliente, ele construiu a famoso “compra de 1-click”. A Amazon acabou patenteando essa tecnologia, que lhe rendeu um ganho enorme da concorrência por 20 anos.
Steve Jobs e o IDVD
Jobs juntou uma das melhores equipes de Design de Produto do mercado. Pediu para eles criarem um produto que permitisse que os usuários pudessem gravar mídias do computador em um DVD.
Passaram meses construindo um super produto. O manual do usuário tinha mil páginas, e era um produto completo, do qual o time tinha mega orgulho.
No dia da apresentação para Jobs, antes de começarem a apresentar os slides, Jobs pegou um lápis e desenhou um retângulo em um quadro.
“Aqui está o novo aplicativo. O usuário arrasta o vídeo, e clica em gravar.”
A sua equipe ficou envergonhada, e a apresentação do novo produto nunca foi feita. Os desenvolvedores têm, até hoje, o manual de uso com mais de 1.000 páginas, que, certamente, nunca foi visto pelo mercado.
Moral da história? O seu time tinha pensado em um produto complexo para atender uma tarefa simples.
O ser humano é treinado constantemente para realizar tarefas complexas, e enxergar a simplicidade das coisas constitui um olhar que requer prática constante.
- Quantos passos o usuário precisa fazer até chegar na proposta de valor?
- Como fazer para ele chegar o mais rápido possível no a-ha moment?
Pense sobre no mínimo a ser feito. O feijão com arroz.
Como “treinar” a sua mente
O que eu mais vejo dentro da nossa comunidade são empreendedores pensando em produtos. O produto, de fato, é a parte mais divertida de montar uma empresa. Quem não quer construir um produto e ter milhares de usuários usando e pagando por isso todos os dias? Um sonho.
O problema de pensar no produto é que ficamos fantasiando cenários de uso, e que normalmente são complexos, por natureza – é uma armadilha do nosso cérebro pensar em tudo. É como o time do Steve Jobs fez com o design do IDVD.
Eis algumas dicas para te ajudar a simplificar sua visão de negócios.
Olhe através da perspectiva dos clientes
Antes de construir qualquer coisa, passe um tempo tentando descobrir como seus clientes resolvem o problema que você quer resolver. Entendendo como o problema é resolvido, e tendo clara a jornada da dor até a solução, você terá várias respostas.
Sempre dê passos mínimos
Quando você travar no seu projeto por conta de um item na sua checklist que é um obstáculo para próximo passo, lembre-se que simplificar significa terminar.
Então, em vez de buscar o perfeito, ou aquela integração “importante”, pergunte a si mesmo: qual é o mínimo que posso fazer aqui para avançar para a próxima etapa e terminar o projeto?
Quanto menos barreiras, mais conversão
Essa questão é fácil e óbvia, embora seja uma das mais complexas, porque os seres humanos são complexos, por natureza. Acabamos focando demais em deixar o negócio completo e, muitas vezes, colocamos muitas barreiras para os usuários. Então, sempre pergunte a si mesmo: o que eu consigo tirar da frente para que meus usuários cheguem na minha proposta de valor o mais rápido possível?
Construção do MVP
Se seu produto mínimo viável (MVP) demorar mais de 2 semanas para ficar pronto, pergunte a si mesmo se faz sentido o que você está construindo. Muitas vezes, muitas mesmo, vejo empreendedores passando tempo demais construindo seu MVP por ficar fantasiando futuros problemas, quando, na verdade, o que importa é colocar ele na rua para entender quais são os reais problemas que podem acontecer.
Foque no único trabalho a ser feito (job to be done)
Muitos empreendedores, principalmente aqueles que não são desenvolvedores, acabam tendo muitas ideias e inserindo várias funcionalidades em seus projetos. Ou, até mesmo desenvolvedores caem nessa armadilha. Mas, aqui encontra-se um problema: quanto mais coisas você coloca, mais barreiras você está levantando para o seu usuário. Então, foque simplesmente em construir uma ou duas funcionalidades que, de fato, resolvem um problema para seus usuários. O resto, não é importante.
Dica: Tempo para valor (time to value)
Agora, uma coisa que você pode fazer para medir o sucesso do seu MVP e entender se você está indo para o caminho certo, de forma simples, é usar uma única métrica chamada time to value, ou em português, tempo para valor.
O tempo para valor é o tempo que o usuário demora para chegar até a proposta de valor do seu MVP. Por exemplo:
- AirBNB: quanto tempo (ou etapas) os usuários precisam passar até conseguirem reservar a hospedagem?
- Uber: quanto tempo (ou telas) os usuários precisam passar até conseguirem chamar uma corrida?
- MyGroupMetrics: quanto tempo os usuários demoram até terem seu primeiro resumo gerado no grupo?
Medir o tempo para valor é importante, porque vai te dizer quantos % dos seus usuários estão conseguindo extrair valor do seu Micro-SaaS, efetivamente, e essa métrica vai impactar diretamente na sua conversão para assinantes e, provavelmente, no seu churn.
Travou em algum projeto? Comece do zero
Ficamos muito habituados com a complexidade do dia a dia e, muitas vezes, refletimos sobre essa complexidade em nossos projetos.
Ter uma visão mais simples é um exercício que deve ser feito a todo tempo, desde a nossa escrita no dia a dia até a forma como lidamos com nossos projetos pessoais e profissionais, e principalmente em como desenvolvemos nossos Micro-SaaS.
Sempre que puder, tente fazer um exercício simples respondendo a esta pergunta: qual é o número mínimo de passos necessários para que meu cliente compre/resolva o problema dele?
Ah, e outra dica simples, também, é a seguinte: comece do zero.
Se você travou no seu projeto e é um projeto relativamente pequeno, ou está muito tempo parado no mesmo estágio, considere começar do zero novamente.
Você vai se surpreender com a sua capacidade de simplificar um projeto quando começa ele do zero, olhando de outra perspectiva.
Por último, e não menos importante, um gentil lembrete: bugs, falta de funcionalidade ou qualquer coisa assim, se resolvem com o suporte.
O segredo, aqui, está em baratear o máximo possível do seu erro (caso seu MVP dê errado), e facilitar a vida dos seus usuários.
Não se prenda ao complexo. Fixe-se em terminar fazendo o mínimo possível.