A nova economia do Micro-SaaS em 2022
Nos últimos 7 anos de minha carreira profissional, venho dando mentoria para empreendedores de primeira jornada através do Founder Institute SP. O Founder Institute SP é um programa incrível que ajuda novos empreendedores a criarem seu MVP e encararem o mercado, pela primeira vez.
Um dos pontos que discuto com os empreendedores(as) é sobre a questão do “conto de fadas” do ecossistema de startups. Quanto maior for o tamanho do cheque, maior será o sucesso da Startup. Isso não passa de um conto, porque, no fim do dia, o que importa é você resolver um problema para alguém e ser pago por isso (vulgo: clientes satisfeitos). Preferencialmente, isso precisa acontecer de forma recorrente.
Se olharmos o ecossistema brasileiro
- Em 2021, foram mapeadas 13.700 startups no Brasil.
- 40,8% são empresas de SaaS.
- 3,5% ideação / 32,7% validação / 31,8% operação / 23,2% tração / 8,8% escala.
- Ou seja, podemos considerar que 68% ainda não atingiu o Problem-solution-Fit
- Dessas, 69% têm menos de 3 anos de vida.
- 27,1% não têm faturamento, e 18,7% faturam menos de R$ 30k por mês.
- 41% ainda está em fase de captação ou já conseguiu captar junto a um investidor Anjo.
Fonte: Mapeamento do ecossistema 2021
Deep diving no topo do funil:
- 9.300 de startups ainda estão em fase de MVP/Operação.
- Curiosamente, todas essas têm menos de 3 anos de vida.
- 3.700 startups ainda não tem faturamento, e 2.500 fatura menos de R$ 30k de MRR.
- Das 13.700, apenas 5.600 conseguiram algum tipo de investimento anjo.
E o que acontece com essas startups que não conseguem validar seu MVP, não têm um mercado de 100 bilhões, ou não conseguem tracionar 20% MoM (mês a mês)? Empresas que não cabem dentro da tese de VC. E startups que receberam investimento de anjo e o produto não chegou onde queriam? E as que não chegam nem no estágio de captação?
Nessa discussão, vou além. O que acontece com founders desenvolvedores que ficaram de 1 a 2 anos construindo um produto para resolverem uma dor, e conseguem um mínimo de tração, mas, não o suficiente para pagar as contas? Conhecemos essa história… Primeiro, valide a dor do cliente, para, depois, construir a solução. Mas, tem muitos desenvolvedores mundo afora que constroem produtos incríveis e, às vezes, não querem dar continuidade a eles. Ou, apostam em outras oportunidades quando descobrem que o produto não vai crescer como gostariam.
Crescer dói. Só quem já fez um negócio crescer sabe como isso é caro e lento.
Os motivos são vários. Às vezes, esses empreendedores precisam (de):
– Liquidez;
– Parceiro estratégico;
– Desmotivação;
– Buscar um business “VC Fundable”;
– Crescimento muito lento.
O que são Micro-SaaS?
Micro-SaaS: São pequenas empresas de SaaS (produtos digitais de receita recorrente) que faturam até R$ 25k de MRR por mês. São empresas Bootstrap, não são sexy, com baixo custo operacional, e que resolve um ou dois problemas muito bem para um nicho específico.
“A SaaS business targeting a niche market, run by one person or a small team, with small costs, a narrow focus, a small but dedicated user base and no outside funding. Hence, Micro-SaaS.”
“A Micro-SaaS is the “lifestyle business” of the SaaS world.”
“The main point is that it’s solving a specific problem for a specific audience, so there’s no true desire to grow like crazy like unicorns would.”
“MicroSaaS is intentionally kept small to preserve authenticity as well as the sanity of its founders. Lifestyle and profitability are more important than valuations and growth metrics.”
Um negócio de Micro-SaaS pode ser construído rapidamente, por ser “pequeno”. Além disso, é focado em resolver um ou dois problemas, de modo muito bem feito. Não são produtos complexos cheio de funcionalidades. Isso facilita muito a forma de administração do negócio, e toda comunicação com clientes permite feedbacks rápidos e melhorias significativas no produto. O processo como um todo é enxuto e rápido.
E qual a diferença de um Micro-SaaS de um SaaS tradicional?
- Produto de nicho;
- Administrado por uma ou poucas pessoas;
- Custo baixo;
- Pequena base de usuários recorrentes;
- Rentável (margens entre 75% e 95%);
- Produto mais direcionado e menos generalizado.
E por que esses negócios estão se tornando atrativos?
No fim do dia, o que importa para o empreendedor é construir um negócio de impacto e ser pago pelos seus clientes por isso. O Micro-SaaS cria essa oportunidade de os empreendedores viverem esse estilo de vida, com uma receita recorrente mensal sem os incontáveis desafios de crescer um grande negócio.
O mindset do empreendedor de Micro-SaaS consiste em construir um pequeno produto especializado para um determinado nicho. Como um artesão. E o mais interessante disso é que, para um empreendedor de Micro-SaaS, a mágica da receita recorrente traz o benefício intangível do tempo como um aliado.
Voltando à reflexão do ecossistema
Se considerarmos os dados do ecossistema brasileiro, podemos entender que muitas startups se encaixam nessa categoria: a categoria de Micro-SaaS.
Independentemente de terem recebido investimento ou não, estão em fase de validação de produto e go to market. E muitos, por seus vários motivos, não vão conseguir chegar à próxima etapa do jogo. E o que acontece com esses empreendedores? Quais são suas opções?
No Brasil, são muito pequenos para M&A. Muito caro para fechar um CNPJ.
E o que isso tem a ver com a MicroAquire?
Em 2020, o empreendedor Andrew Gazdecki tinha uma tese. Ele acreditava que empreendedores de pequeno porte (aproximadamente 95% dos empreendedores), que não tinham mais interesse em continuar à frente de seu negócio por quaisquer que sejam seus motivos, sempre tinham muita dificuldade de liquidar seu ativo de forma rápida e simples. Então ele criou o MicroAquire.
Na visão dele, encontrar um advisor, captar recursos financeiros, montar toda estrutura legal para vender um negócio, é um processo muito fragmentado ou burocrático.
Para os empreendedores, é um super trabalho e, para os compradores, há poucos negócios bons de encontrar. É um processo lento e que gera muita ansiedade em ambas as partes.
A MicroAquire surgiu para consolidar este mercado fragmentado, conectando compradores e vendedores, e coordenando todo o processo. A diligência se torna um produto de prateleira, e vender seu ativo se torna um processo simples e rápido. Com diversos compradores interessados.
Nesta foto (relatório fev 22), está o múltiplo de venda dos Micro-SaaS baseado no ARR (Anual Recurring Revenue) do produto. Outro ponto interessante é que muitas vezes o empreendedor não vende o CNPJ, mas apenas o ativo digital, o faturamento e a base de clientes.
Daí veio a provocação da capa deste artigo – o crescimento do faturamento da própria empresa (#publicstartup). Dá para ter uma ideia, então, das oportunidades que estão por vir..
Essas oportunidades criam um novo mercado…
O mercado de Micro Private Equity
O mais curioso disso é que além de eles proverem liquidez para empreendedores que não desejem mais seguir com seus negócios, também possibilitaram um novo mercado surgir: os empreendedores de Micro Private Equity.
Micro Private Equity surgiu com um ou mais empreendedores que se juntaram para adquirir e montar um portfólio de Micro-SaaS, com a intenção de crescê-los e gerar liquidez aos sócios. Possuem um centro de serviço compartilhado, com baixo custo operacional e uma margem alta.
Em resumo, um Micro Private Equity
– Foco em empresas de SaaS de nicho, que tenham faturamento.
– Comprar, operacionalizar e crescer o faturamento.
– Não são VC. Compram 100% da empresa e operam como uma micro PE.
– Não precisam de 10x de retorno para o modelo funcionar.
– Acreditam que as chances de uma aquisição ir para zero é menor do que começar um negócio do zero (diferença de venture builder).
– Pulverizar o faturamento e risco em várias “cestas” (vários Micro-SaaS).
A tese é interessante. De forma simplista, é uma ideia boa, com uma ferramenta que faça o trabalho, com um canal e uma ideia validada (em algum estágio).
E o Brasil, onde se encaixa em tudo isso?
O ecossistema brasileiro é incrível e imenso. Minha tese é que muitos empreendedores acabam construindo negócios incríveis – conhecidos por muitos como “life style business“. Empresas que crescem 1-3-5-8-10% ao mês, porém, não são VC Fundable.
Acredito, também, que o perfil do empreendedor vem sofrendo muitas transformações. Quando comecei a empreender em 2014, não havia tanta liquidez. Os empreendedores eram conhecidos como empreendedores Street Fighter. Hoje, é diferente. Hoje, você tem um MVP e provavelmente com um pequeno faturamento você já consegue funding com uma rede ou sindicato de anjos.
Empreendedores Street Fighter. Saia na rua, dando e levando porrada, com pouco ou quase nada de funding.
Mas e os empreendedores que não se elegem para uma rodada Seed? E os empreendedores que, por algum motivo, cansam do seu negócio? Ou quando a sociedade não dá certo? O que acontece com suas micro-empresas? Se pararmos para pensar, fechar uma empresa no Brasil custa caro. Então, quais são as oportunidades para eles? Não vou entrar no mérito psicológico também, mas, para o empreendedor brasileiro, fechar uma empresa é sinônimo de “fracasso”. Agora, quando você vende uma empresa, é de “sucesso”. O cara é foda.
Será que não existe espaço para Micro Empreendedores no Brasil? Será que não podemos ter Micro Private equity’s por aqui também? E será que não existem oportunidades de fornecer liquidez para pequenos empreendedores (e o carimbo de Exit), para que usem esse capital para construir seu próximo projeto? Tantas teorias..