Como construir um Micro-SaaS em 2024
Construir um Micro-SaaS não é complexo como parece. Você não precisa saber programar ou ter grandes conhecimentos em marketing.
E o mais interessante é que a grande maioria dos side projects nasce muitas vezes com a intenção de resolver a própria dor do empreendedor.
- Você pode prestar um serviço recorrente e querer automatizar o processo;
- Você tem uma dor por todos os dias precisar executar tarefas repetitivas;
- Você usa um sistema que é completamente defasado (e muitas vezes caro). Parece que ele ficou preso no tempo;
- Seu/sua parceiro(a) trabalha com uma atividade que tem várias etapas ou processos, e ainda usa Excel ou pranchetas;
- Você é uma pessoa muito criativa e enxerga vários problemas que poderiam ser resolvidos com tecnologia.
No fim do dia, um Micro-SaaS é uma solução para um processo ruim ou inexistente que pode ser melhorado com tecnologia – seja um SaaS, uma integração, um Excel, ou um diretório de ferramentas.
Abaixo, vou sintetizar em 10 passos o que eu ensino o pessoal na Comunidade Privada sobre como validar uma ideia, construir um MVP, fazer Go to Market (GTM), bem como um par de dicas e conselhos sobre negócios.
1º O que você quer resolver?
Primeiro, você precisa entender o que quer resolver. De nada adianta construir um produto somente porque você sabe construir.
De “produto por produto”, o mercado está cheio. É o famoso “não vou contar minha ideia porque as pessoas podem copiar”. Porém, construir um Micro-SaaS é construir uma empresa, e isso é muito diferente de um produto.
Então, antes de começar a desenvolver qualquer produto ou MVP, você precisa parar e refletir:
Qual é o problema que você quer resolver?
O problema normalmente faz com que as pessoas/empresas percam tempo ou dinheiro. Assim, o mais importante é entender qual realmente é o problema a ser resolvido.
Em seguida, você pode começar a amadurecer a ideia entendendo se mais pessoas também têm esse problema:
- Será que esse problema é somente seu ou mais pessoas também têm essa dor?
- Como esse problema é resolvido atualmente?
- As pessoas pagariam por uma solução?
- Esse problema acontece em outros nichos, ou é específico de um nicho?
- Essa dor é recorrente? Com qual frequência?
Lembre-se: o mais importante, sempre, é começar pelo problema, e nunca pela solução. Quanto mais informações você tiver sobre o problema, maior será a chance de começar certo.
2º Se apaixone pelo problema, e não pela solução
Uma vez que você identificou o problema, conversou com mais pessoas e entendeu que existe uma oportunidade, é preciso refletir se esse problema e seu mercado são áreas que você tem afinidade – ou, colocando de outra forma, se você tem “tesão” pelo que você está querendo resolver.
Existe um conceito famoso chamado Founder-Product Fit.
“Founder-Product Fit: quando o founder tem uma relação com seu produto, seja porque o construiu para resolver uma dor sua ou porque acredita na força da proposta de valor. O produto não é apenas algo que ele vende, mas com o qual verdadeiramente se importa.”
Arthur Dambros
Se você não acreditar no que está construindo e no valor que gera para seus usuários, existe uma grande chance de o projeto não sair do papel.
Normalmente ao construir um negócio, encontramos várias adversidades no caminho. E quando a afinidade é fraca, o projeto acaba perdendo o brilho e outras coisas começam a chamar mais atenção do que seguir com o projeto atual.
3º Descubra seu público alvo
Já ouviu falar em “overthinking”?
Pensar de forma contínua e insistente em determinadas coisas, geralmente ruins, é o que caracteriza o overthinking. Em linhas gerais, se trata de uma tentação negativa de pensar sobre algo sem parar. O estilo de vida moderno criou mais possibilidades para a manifestação do overthinking em nosso cotidiano.
Vejo muito empreendedor que se sabota achando que tem certeza absoluta de quem é seu público alvo, acreditando ou pensando demais nas próprias hipóteses e fazendo “de menos”.
- ✅ Quando você descobrir se mais pessoas têm essa dor, provavelmente já terá uma ideia de quem é seu público-alvo. Por isso eu recomendo sempre que conversem com várias pessoas antes de sair construindo. Entender a dor é a etapa mais importante do processo.
- ❎ Normalmente, as pessoas que começam pelo produto têm dificuldade de descobrir o público-alvo depois. Vejo com muita frequência as pessoas fazendo overthinking de negócios e deixando para refletir sobre os clientes e seu comportamento quando o Micro-SaaS está rodando sem conseguir fazer vendas.
“Fiz este produto para resolver um problema para mim, não pensei se outras pessoas poderiam querer”.
Escuto essa frase com muita frequência, e não tem certo ou errado. Não importa se você vai começar pelo produto ou pelo público-alvo, mas, saiba que, se você não descobrir quem é o seu cliente antes de começar a desenvolver, pode se deparar com os seguintes cenários:
- Desenvolveu mais funcionalidades do que deveria e agora precisa refatorar o produto;
- Seu produto ficou muito complexo e agora não sabe porque não vende;
- Não sabe por onde começar a vender e por quanto vender;
- Sempre joga o preço para baixo achando que vai ajudar a trazer os primeiros clientes;
- Não tem ideia da proposta de valor do seu negócio;
- Acha que o produto pode atender vários mercados e verticais diferentes.
Se identificou? Pois é, por isso quanto mais nichado sua solução, mais fácil vai ser de descobrir seu público alvo e sua proposta de valor.
4º Construa seu MVP e valide sua proposta de valor
Ao meu ver, um MVP (Produto mínimo viável) ou um MLP (um MVP mais bonito e profissional – Minimum lovable product) devem ter o objetivo principal de validar 3 coisas muito importantes:
- Proposta de valor;
- Modelo de negócio (como você vai ganhar dinheiro);
- Canal de distribuição.
Não vou me estender muito neste assunto porque tenho vários vídeos no Youtube falando sobre isso, mas, já adianto que esta é a etapa mais importante de todas da construção do seu Micro-SaaS.
A proposta de valor não é a funcionalidade do seu SaaS, ou o fato de ele ser mais barato do que os concorrentes. A proposta de valor é o valor que o usuário recebe ao resolver o problema dele. Normalmente, tende a ser tempo ou dinheiro – você economiza tempo/dinheiro ou gera mais – e isso é o seu principal diferencial competitivo.
O modelo de negócio envolve várias coisas, mas, de forma resumida, eu gosto de falar, brincando, que é a forma que você vai ganhar dinheiro. Estamos falando, aqui, de ticket médio – se o produto vai ser freemium, reverse trial, etc.
E o canal de distribuição é um grande desafio, principalmente por que a maioria dos empreendedores tem pouco ou nenhum conhecimento em marketing e vendas. Por isso eu recomendo sempre dar pequenos passos e ir testando coisas não escaláveis.
Lembre-se: para se tornar um Indie hacker você precisa ser um empreendedor generalista. Não terceirize as vendas, pois é uma habilidade muito importante para você aprender e aplicar em todos seus projetos futuros.
5º Seus primeiros 10 assinantes
Faça coisas que não escalam (Do thing’s that don’t scale).
Esse é meu conselho para quem está em busca dos primeiros assinantes para o MVP. Tenho um vídeo em que falo sobre isso.
Em linhas gerais, você não deve buscar escalar seu negócio desde o primeiro dia se você não tem sua fundação bem sólida. Se você acertar o canal de distribuição mas sua proposta de valor não estiver sólida, provavelmente terá bastante churn – ou seja, um balde furado – podendo acabar com muito trabalho de suporte e pós-venda, porque seus usuários estarão se perdendo ou se frustando com seu sistema.
Seus primeiros 10 assinantes devem vir de:
- Grupos do Facebook, Reddit ou outras redes sociais;
- Seu networking ou seus amigos;
- Entrevistas que você fez para entender melhor as dores e o público-alvo;
- Sua família, amigos e os doidos.
Você pode, sim, fazer tráfego pago para conseguir os primeiros assinantes. No caso, eu recomendo que pegue todos os leads ou assinantes, independentemente de como vieram, e os leve por toda jornada do seu SaaS, até terem o problema resolvido.
Fazer o onboarding manualmente vai te dar muita informação sobre seus clientes, suas dúvidas, e vai te ajudar a descobrir seu “a-ha moment”.
Confie em mim. Você precisa descobrir essas informações.
6º Seus primeiros 100 assinantes
Com o passar dos meses, você vai ter bastante informação sobre seu público-alvo e sua proposta de valor, já vai ter desenvolvido algumas “core features” do seu Micro-SaaS e, provavelmente, vai estar faturando algo próximo de R$ 1-3 mil reais por mês (este processo demora de 2 a 5 meses).
Não é incrível a ideia de construir um negócio que te gere R$ 1 mil reais por mês de renda extra? Eu, pessoalmente, acho isso fascinante.
Parabéns, você já é um Indie Hacker de sucesso.
Quando você tiver essas informações, provavelmente seu negócio já estará, minimamente, estabilizando. Seu churn estará ficando mais claro, e sua proposta de valor e seu público-alvo também. Então, estará na hora de partir para as estratégias de Go to Market. Basicamente, consiste em colocar seu SaaS na boca do povo.
As 5 melhores estratégias que vi na Comunidade:
- Ads: a grande maioria dos SaaS usa Ads para crescer o faturamento. É um dos canais favoritos dos empreendedores. É por isso que dá tanto “fit” entre gestores de tráfego e empreendedores de SaaS.
- Parcerias com influenciadores/afiliados: os projetos que mais cresceram na comunidade foram através de parcerias estratégicas e afiliados. Há um projeto na nossa Comunidade que foi de R$ 20 mil para R$ 100 mil de MRR em 6 meses usando esta estratégia.
- Free tools/Give-aways: construir projetos pequenos complementares ao SaaS principal é uma ótima forma de gerar SEO e leads para seu negócio.
- Conteúdos virais: muitos projetos que trabalham com B2C estão usando a estratégia de criar conteúdos faceless em redes sociais, usando AI para narração e roteiro para fazer conteúdo que viraliza. Esse modelo de negócio tem funcionado super bem para projetos, principalmente no B2C.
- BuildInPublic: acredite se quiser, mas, construir seu Micro-SaaS em público traz vários benefícios, dentre eles audiência e autoridade. Isso é excelente, e acaba gerando muito lead para seus projetos. A minha referência no tema é o Tiago Costa, que lançou seu terceiro Micro-SaaS com R$ 5k de MRR, por conta da audiência.
7º Burocracias
A minha recomendação ao construir um Micro-SaaS, é que você não perca muito tempo com burocracias até que chegue à etapa 6.
Exemplos de burocracias:
- Registro de marca ou propriedade intelectual;
- Abertura de um CNPJ (ME, LTDA ou SLU);
- Contratação de mil ferramentas e automações para construir o negócio;
- Infraestruturas parruda;
- LGPD.
etc..
No fim do dia, quanto menos custo e trabalho burocrático você tiver, mais tempo terá para focar no que importa, que é resolver muito bem o problema dos seus clientes e ser pago por isso.
Lembre-se: não gaste dinheiro antes de ganhar.
8º Governança para SaaS
Se você não é desenvolvedor e quer entrar no mercado de Micro-SaaS por meio de parcerias com desenvolvedores, minha recomendação é que FAÇA essas parcerias o quanto antes.
O mais importante ao construir um Micro-SaaS é toda a experiência dos processos de ideação, validação, MVP e Go to Market. Aprender a montar uma empresa é uma arte, e poucos têm estômago e resiliência para tal façanha.
Não se preocupe em ter mais equity (participação societária) somente porque você teve a ideia, ou em ter 100% de um negócio que não fatura. Preocupe-se em achar uma pessoa que tenha a mesma visão, objetivos e que queira ir para o mesmo caminho que você.
Tenho um artigo sobre este tema se você quiser saber mais.
Governança, parcerias, negócios e Micro-SaaS
O mais importante é a jornada e a experiência. Por isso eu sempre digo: montar um Micro-SaaS é um laboratório.
Minha recomendação: trabalhem juntos por pelo menos uns 3-6 meses, com responsabilidades e entregáveis muito claros de cada um, buscando desde o primeiro dia construir uma relação transparente e de execução.
Em paralelo, para evitar a etapa 8, da burocracia, o que vocês podem fazer é um simples acordo de sócios para deixar claro como vai funcionar a sociedade no futuro. Este documento pode ser formalizado por email ou assinando digitalmente.
9º Networking e parcerias
Uma das coisas mais importantes que eu aprendi empreendendo é a importância de construir relacionamentos e parcerias.
Vamos quebrar em duas frentes:
- Networking
O networking nada mais é do que você se conectar genuinamente com outros empreendedores. Uma forma de fazer isso é buscando conhecer mais suas histórias e ambições.
Você vai se impressionar com a disposição das pessoas em tomar um café online com você e falar sobre elas. E, ao se tornar um bom ouvinte, você conseguirá construir um relacionamento sincero com as pessoas, sem querer nada em troca.
No futuro, esse networking vai abrir para você muitas portas e destravar muitas oportunidades. Na minha opinião, os empreendedores deveriam investir pelo menos 20% do seu tempo fazendo networking.
- Parcerias
Parcerias são essenciais para destravar projetos. Infelizmente, não sabemos de tudo e nem temos todas as habilidades. É claro que você pode aprender as coisas e ir implementando, aos poucos, no seu negócio, mas, ter um parceiro pode fazer com que você economize bastante tempo e dinheiro.
Minha recomendação é que você esteja sempre conhecendo novos fornecedores e testando seus serviços. No decorrer do crescimento do seu projeto, você vai estar cercado de bons parceiros de confiança que serão essenciais para sua jornada.
Parceria é uma via de duas mãos. Não esqueça disso.
10º Saber a hora de seguir em frente
É isso. Você provavelmente vai dar início a alguns projetos e descobrir que não eram os certos, que o público estava errado ou que você perdeu aquele brilho pelo negócio.
Não se sinta mal por isso. Acontece. Por isso, eu acredito que o melhor caminho para você é montar seu negócio sabendo disso e o preparando para uma possível venda no futuro.
O que isso significa, na prática? Não misture as coisas pessoais com as profissionais. Ou seja, crie contas de e-mail apenas para o negócio, separe os custos e lucros das contas pessoais, documente tudo, e não faça gambiarras que não possam ser desfeitas.
Dica bônus
Landingpage: landingpages são ótimas para validar ideias e captar leads. Se você sabe que seu Micro-SaaS tem mercado e já está validado, você pode pular toda etapa de discovery e ir direto para captação de leads e entrevistas.
Construção de audiência: ter audiência ajuda mas não é sinônimo de sucesso. Audiência ajuda a gerar leads, awareness e branding mas não significa que quem tem audiência tem um canal de distribuição garantido. Se seu produto não resolver um problema, ou não tiver uma proposta de valor clara, você provavelmente vai ter muito churn.
Cobre desde o primeiro dia: você só vai saber se está gerando valor para as pessoas se elas pagarem pela sua solução. Não lance seu MVP de graça. A validação está no pagamento.
Lifetime deal: quer oferecer assinatura vitalícia no seu lançamento? é uma ótima estratégia para fazer caixa, mas cuidado porque o preço pode ser alto. Pense muito bem em como vai funcionar as vendas e principalmente o suporte para esses usuários.
Retenção é mais importante que aquisição: você precisa estar gerando o máximo de valor para seu clientes. Tente levar seus clientes o mais rápido possível para o a-ha moment. Esteja próximo de todos seus clientes até você não conseguir mais. Eles vão dizer para qual direção seu Micro-SaaS deve ir. Não se preocupe em volume de vendas, se preocupe em não ter um balde furado.
Lance seu Micro-SaaS na gringa: se você sabe falar inglês ou está construindo uma solução que possa ser global, então comece global. Lançar internacionalmente é menos difícil do que parece. Tenho uma live com um empreendedor bem bacana que pode te ajudar.