Minissérie de 3 artigos: construindo comunidade, newsletter e CSC.
Bruno Okamoto
17 Min de leitura

Como construir uma comunidade online

Meu playbook de como montei a Comunidade de Micro-SaaS de 0 até 10.000 membros em 2 anos.

Visão geral da minha comunidade

  1. Minha comunidade começou no Telegram, depois migrei para o Discord e, por fim, achei o melhor modelo para ela: Circle + Whatsapp
  2. Minha comunidade no Circle tem aproximadamente 6 mil membros, no Telegram tem cerca de 3 mil membros, e no Whatsapp tem cerca de 400 membros (assinantes).
    1. Uma média de 400 novos membros por mês; 
    2. 25% MAU (monthly active users) – ou seja, 1.500 membros ativos por mês;
    3. Em média, tenho 130 pessoas ativas por dia; 
  3. A comunidade é gratuita, e tenho uma área de assinantes pagos;
  4. Os maiores canais de aquisição são Instagram, YouTube e Google; 
  5. Tenho 2 moderadores (voluntários), mas eu leio e faço a gestão de todos os posts, comento em todos posts e dou boas-vindas a todos novos membros desde o primeiro dia. 

Contexto dado, vamos ao ponto mais importante. 

O principal motivo de uma comunidade existir: gerar conexões entre os membros

“Alone, we can do so little; together, we can do so much”
”Sozinhos, podemos fazer tão pouco; juntos, podemos fazer muito”
Helen Keller

Se você parar para pensar, isso faz muito sentido. Uma comunidade é um ambiente seguro com várias pessoas que compartilham dos mesmos sonhos e desejos. Mas existe uma diferença muito grande enter construir uma comunidade e construir um grupo (ex: um grupo de whatsapp com 1k pessoas).

O desafio de construir uma comunidade não está na ferramenta ou no formato que você vai construir este ambiente, mas o desafio está em como criar uma cultura e processos que sejam a fundação para este ambiente e para os membros. 

Uma vez, vi uma palestra do Brian Chesky, quando o AirBNB estava em processo de escala global. Perguntaram para ele como era administrar tantas casas pelo mundo e qual era a importância da tecnologia neste processo. 

“Imagine uma cidade com 120 mil habitantes em que não existem regras ou regulações. Você sai na rua de noite em uma cidade sem regras, com pessoas do mundo inteiro, falando diferentes línguas e usando diferentes moedas para comprar e vender as coisas.” 

E o que isso tem a ver com uma comunidade? Se não existirem regras e cultura, criamos uma cidade sem leis. Uma comunidade funciona da mesma forma, e a tecnologia é só a “cidade” no meio dessa história toda. 

1º Escolhendo uma plataforma

Vamos ao lado prático de começar uma comunidade.  

Não faz diferença em qual plataforma você vai começar sua comunidade 

Tanto faz você começar pelo Discord, Slack, grupos de Facebook, Whatsapp ou Circle. Novamente, a tecnologia é sua cidade, mas para sua comunidade funcionar ela não depende dela.  

O mais importante é você começar pequeno e simples.

Normalmente um grupo de Whatsapp funciona super bem para 99% dos casos, e depois você pode migrar para estruturas mais parrudas.

Mas, vamos aos prós e contras das plataformas mais conhecidas. 

  • Facebook 

Grupos do Facebook são excelentes, mas, culturalmente falando, no Brasil, pelo menos, as pessoas estão cada vez mais usando a plataforma. Isso pode gerar um atrito no longo prazo. Outro ponto é que não tem API. 

O maior downside dos grupos do Facebook é o baixo engajamento. 

  • Grupos de Whatsapp/Telegram 

Em quanto tempo você acha que vai atingir 1k de membros na sua comunidade? Se for rápido, não recomendo este caminho. Se for lento, aí, sim, faz sentido. Desenvolvi o MGM justamente para tentar ajudar a reter o engajamento dos membros, mas, à medida que o grupo cresce, o engajamento cai. 

O maior downside do Whatsapp/Telegram é que não escala 

  • Circle 

O Circle, na minha opinião, é a melhor plataforma, porém, funciona somente para um volume alto de pessoas. Se você for montar uma comunidade nichada, em que poucas pessoas vão participar, não compensa o investimento. Acima de 1-2 mil pessoas, recomendo o Circle

Essa ferramenta tem API e automações. É possível escalar e intercalar com processos e ferramentas próprias. Outro ponto positivo é que é uma das poucas plataformas que recebeu bastante investimento, e isso em tese significa que vão “desenvolver” bastante funcionalidades nos próximos meses. 

O maior downside do Circle é o preço. 

Eu entendo que existem outras plataformas, inclusive brasileiras, como a Nichoos, mas eu não as conheço. Em minha carreira, já testei várias, como Discord, Slack, BuddyBoss (dentre várias outras de WordPress), e cheguei à conclusão de que nenhuma atende 100% das necessidades. Então, escolha uma que você acredite que faça mais sentido para você no longo prazo, e fique com ela. 

Importante: migrar de ferramenta deixa rebarba 

Já migrei a comunidade 2x. Uma do Telegram para o Discord, e outra do Telegram para o Circle.  

O processo de migrar de comunidade é lento e demorado. Eu diria que, dependendo do tamanho da comunidade, o processo demora entre 1 e 6 meses.  

Entenda que a migração não é apenas da ferramenta, mas, há todo o fator cultural do novo ambiente que as pessoas precisam se adaptar. É uma nova rotina. Tirando o Whatsapp, todas as outras plataformas têm uma curva de aprendizado. 

O ser humano naturalmente tem dificuldade para adaptar novas ações em suas rotinas. Pense bem antes de mudar sua estrutura, e mude antes que seja tarde.

2º Os membros da sua comunidade

Quão bem você conhece as personas da sua comunidade? Se você não sabe muito bem qual é o perfil da sua comunidade, recomendo estes dois caminhos. 

Entrevistas: entreviste entre 50 e 100 pessoas da sua comunidade.

“Mas, por que entrevistar tanta gente?”

Eu sei, é bastante gente. Se cada entrevista demorar 30 minutos, estamos falando de 25 horas de entrevistas, no mínimo. Contudo, lembre-se, como qualquer negócio, comunidades são de longo prazo e você precisa, infelizmente, dominar o conhecimento das personas da sua comunidade.

Se prepare, pois essa etapa costuma ser demorada. Separe alguns slots de tempo para isso, e lembre-se que o jogo é de longo prazo, sempre. 

Capte dados durante a jornada da comunidade: além de investir dezenas de horas em entrevistas, outro caminho é ir captando os dados dos membros da sua comunidade durante suas jornadas. No caso, eu gosto de inserir áreas gratuitas nas minhas comunidades, em troca de informações sobre as pessoas. 

Vídeo completo aqui.

Construa uma jornada e crie rituais: quando as pessoas entram na comunidade, elas normalmente entram com uma expectativa alta. Por isso, é muito importante você guiar as pessoas o mais rápido possível pela comunidade, e oferecer o “a-ha moment” logo de entrada, para que a pessoa crie esse primeiro vínculo. Além disso, as pessoas precisam saber como navegar na comunidade. Por isso, é importante você ter uma jornada construída. 

Mural de boas vindas dos assinantes da Comunidade Privada

“A-ha moment”: o a-ha moment é quando a pessoa encontra algo que a surpreende positivamente (normalmente, trata-se de a pessoa encontrar outras pessoas que possam se identificar).

No caso da minha comunidade, um dos exemplos de “A-ha moment” é quando a pessoa se apresenta, e os outros membros dão boas-vindas. Isso gera uma primeira conexão, um primeiro vínculo com o lugar. 

Em menos de 2 meses, Ana virou membro da minha Comunidade Privada.

3º A cultura da sua comunidade

Agora, vamos à parte mais complexa. O que define a cultura da sua comunidade?  

A cultura da comunidade é o principal pilar de sucesso de uma comunidade. Ao construir uma cultura sólida desde o primeiro dia, você: 

  1. Fomenta Engajamento: membros se sentem mais conectados e motivados a participar ativamente. Engajamento é a chave do sucesso de qualquer comunidade (qualquer negócio, na verdade); 
  2. Cria Pertencimento: as pessoas se sentem parte de algo maior, o que aumenta a lealdade, a troca genuína de experiências e a ajuda mútua; 
  3. Facilita Colaboração: normas claras incentivam a ajuda mútua e o compartilhamento de conhecimento, criando um sentimento de crescimento coletivo; 
  4. Atrai Novos Membros: uma comunidade com uma cultura atraente naturalmente atrai pessoas com interesses e valores similares. O boca a boca se torna uma arma de crescimento exponencial e orgânica; 
  5. Garante Sustentabilidade: valores compartilhados ajudam a comunidade a se adaptar e prosperar no longo prazo. O jogo é sempre de longo prazo. 

Mas, e como construir uma cultura na prática?

A cultura é você.  

Toda decisão que você toma e todos os valores que você acredita e compartilha criam esse playbook invisível chamado de cultura.  

Até hoje, eu dou boas-vindas para todos os novos membros. Já são mais de 400 membros. 

Os membros sempre me perguntam se é uma automação ou se sou eu.

A experiência é uma das formas de criar uma cultura. Se você constrói um processo que cria experiências, as pessoas vão construir memórias positivas do seu ambiente.

4º Comunidade gratuita e comunidade paga

Quando você começa uma comunidade, você precisa ter claro qual é seu objetivo. Se sua comunidade for fruto de uma estratégia CLG, então você tem um caminho. Se sua estratégia é usar a comunidade como uma rede de retenção para um infoproduto, você tem outro caminho. 

Para cada caminho, há modelos de negócio diferentes e planejamentos diferentes. Na minha visão, existem 3 grandes desafios diante de uma comunidade gratuita e de comunidade paga. 

  • Apenas comunidade aberta 

Como construir um ambiente que gere valor, mas, que não gere valor a ponto de as pessoas não comprarem sua comunidade paga? 

O desafio de construir uma comunidade gratuita é a demanda de tempo, energia mental, custos e muito suporte. E talvez, seu retorno não seja tão bom assim no curto prazo, e você se desmotive a continuar crescendo sua comunidade. 

Na minha visão, criar uma comunidade gratuita só vale a pena se você tiver uma estratégia bem clara de crescimento, engajamento e CLG. Caso contrário, eu limitaria para um ambiente apenas de membros pagantes. 

  • Apenas comunidade paga 

Uma comunidade paga é o modelo mais comum. Você paga para fazer parte ou para ter um acesso específico a algo que deseja, seja um infoproduto ou um software

Na minha visão, cobrar para ter acesso a um grupo específico de pessoas e informações é extremamente válido, principalmente em um momento em que vivemos uma geração de conteúdos e negócios muito “rasos”. No fim do dia, qualidade sempre ganha. 

  • Modelo híbrido: comunidade aberta + comunidade paga (meu modelo atual) 

Este modelo é mais complexo, mas, uma vez implementado com sucesso, você consegue crescer muito. É um modelo em que você constrói uma jornada para seus membros e mostra por A+B que, dentro de um ambiente pago, conseguem crescer mais rápido, de modo mais barato, e em melhor companhia. 

O único motivo pelo qual eu entendo que compensa ter uma comunidade aberta é a oportunidade de crescimento orgânico. Tirando isso, eu não recomendaria. 

5º Automações e investimento

Quando escalar sua comunidade?  

Atualmente, não existe uma ferramenta que atenda 100% uma estrutura de comunidade. Cada uma vai ter uma demanda específica. O desafio é interligar todas as ferramentas e processos para se adaptar com cada comunidade. 

No meu caso, quando migrei para o Circle, um dos motivos que comecei a utilizar a ferramenta foi as API’s. Desde então, criei um processo que integra as seguintes ferramentas:

  1. Make: automações diversas como onboarding no Whatsapp, notificações, disparo de e-mail marketing, webscrapping, etc.; 
  2. Tally: form de captação de dados; 
  3. Lastlink: gateway de pagamento; 
  4. WordPress: landingpage; 
  5. Enotas: emissão de NF; 
  6. Circle: comunidade e diretório. 

Dessa forma, eu consegui montar um processo base que integra praticamente todo o meu ecossistema híbrido que utiliza Whatsapp + Circle

Quando você deve automatizar? Eu recomendo sempre fazer o básico para integrar o feijão com arroz. Por exemplo, captar emails e colocar em uma ferramenta de email marketing para disparar campanhas transacionais, ou liberar determinados acessos através de webhooks do seu gateway

Uma recomendação: nunca gaste dinheiro antes de ganhar dinheiro. Então, se você está no início de uma comunidade e ainda não fatura, tente estruturar um canal de receita para no futuro investir em ferramentas.

Conclusão

Comece sua comunidade em um ambiente onde a barreira de entrada seja a menor possível. Não invista em muitas automações; foque-se em conhecer seus membros e gerar valor para eles desde o primeiro dia. O maior valor que você pode gerar é a conexão e a criação de negócios e oportunidades.

Quanto mais manual e detalhado for o seu trabalho, mais você aprenderá sobre o que é importante e, assim, poderá melhorar seu negócio. A força de uma comunidade é incrível, mas ela leva tempo para tomar forma.

Algumas lições aprendidas

Pequenos conselhos que me daria há 2 anos como empreendedor solo.

  • Você é o principal community manager da sua comunidade. Você não vai conseguir terceirizar esse papel por uns bons anos. 
  • vale a pena construir uma comunidade se você realmente se dedicar para ela e der seu melhor para fazer os seus membros terem sucesso. Se você não tem essa disponibilidade ou tempo, então, isso não é para você. 
  • Uma comunidade exige muito esforço para começar e o retorno costuma ser lento, mas, com o tempo, o retorno fica gigantesco e o jogo vira. A máquina demora para girar, mas, quando gira… é lindo de se ver. 
  • Nunca gaste dinheiro antes de ganhar dinheiro. 
  • Seu sucesso vai vir de modo proporcional ao tanto que você ajudar os outros a terem sucesso. 

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