A etapa de ideação
Ideias, ideias, ideias…
Validar uma ideia é um conceito extremamente abstrato, mas, quando olhamos pela ótica dos produtos e serviços digitais, existem alguns caminhos que são bem conhecidos, tais como Business Model Canvas, ou metodologias de Design Thinking, entre outras.
A minha ideia não é falar desses modelos tradicionais mas trazer algumas sugestões práticas para você transformar esse conceito abstrato na sua cabeça em um pequeno SaaS. Um Micro-SaaS.
Filtrando e amadurecendo ideias
Empreendedores são curiosos por natureza. Essa curiosidade traz um questionamento sobre tudo e todos, sempre na busca novas oportunidades e com novas ideias.
Eu, por exemplo, anoto quase uma ideia nova por dia em meus vários blocos de notas. Tenho ideias rabiscadas em vários lugares. Miro, Notion, Evernote, Craft.
A maioria eu nem lembro mais que existe. Passaram pela minha cabeça e foram embora na mesma velocidade.
Um dos meus laboratórios de ideias. Em 2021, tive a ideia de usar AI para transcrever reuniões em tempo real. Hoje é possível.
O problema de ser uma pessoa com muitas ideias é que fica difícil separar o joio do trigo, ou seja, separar as ideias que dão para testar e executar rápido das ideias mais trabalhosas.
Não vou dizer separar ideias boas das ruins, porque, sinceramente, não existem ideias ruins. Existem, contudo, ideias mais rentáveis e ideias menos rentáveis.
O exercício que eu costumo fazer é o seguinte: toda vez que tenho uma ideia, aplico 3 camadas de filtros.
- Deixo a ideia pelo menos 7 dias amadurecendo
Anoto a ideia em um papel – jogo os pontos principais, faço rabiscos e rascunhos. Todos os dias, olho para essa ideia, e tento entender se não foi um “hype” momentâneo que tive ou se realmente é um projeto que para em pé.
Além disso, “volta e meia” converso com uns amigos próximos sobre a ideia e ouço opiniões terceiras, mas sem muito alarde. Falar me ajuda a amadurecer a ideia, de certa forma.
Depois de 7 dias, se essa ideia ainda não tiver perdido seu “brilho”, digamos, eu sigo para o segundo filtro.
- Filtros
Eu já passei mais de 10 anos plantando. Já plantei várias sementes de longo prazo, e estou em um momento da minha jornada profissional no qual tenho mais interesse em colher do que plantar.
Isso significa que todos os meus projetos precisam dar resultados no curto prazo, já não quero jogar com nada de longo prazo. Considerando isso, eis alguns pontos que busco olhar nas minhas ideias:
- O projeto é simples de fazer?
- O projeto se vende sozinho (não depende de uma pessoa para fechar a venda)?
- O projeto vai demandar muito suporte aos usuários (tipo B2C) ou manutenção?
- Qual o ticket médio do projeto?
- O projeto é nichado?
- Consigo replicar o projeto em outras verticais (outros nichos)?
- Em quais canais de distribuição consigo distribuir este produto?
- Este projeto é escalável através de canais pagos (curto prazo)?
- Tem oportunidade de cauda longa com SEO (longo prazo)?
Para mim, o mais importante é o projeto ser simples, demandar pouco esforço para montar e testar, e não tirar muito do meu tempo.
Como minha tese consiste em montar um portfólio de Micro-SaaS, eu preciso ser exigente na hora de selecionar os projetos em que vou investir tempo. A cabeça de empreendedor tende sempre a deixar as ideias mais complexas do que elas realmente são.
Por isso recomendo você ter um sistema para filtrar suas ideias.
- Converso com pessoas que possam ter a dor que minha ideia resolve
Este é um trabalho que eu, pessoalmente, gosto de fazer. Mas, sei que muitos de vocês, leitores, não gostam.
Conversar com desconhecidos pode ser uma barreira para muitas pessoas, mas, sinceramente, eu acho fascinante conhecer novas pessoas e entender o que passa nas cabeças delas.
Costumo entrar em comunidades nas quais sei que meu público alvo está e acompanhar as conversas, interagindo com os membros por um tempo.
Isso me leva a uma próxima dica, para o caso de você não ter essa facilidade de navegar em diferentes grupos e comunidades.
Validando ideias através de conteúdo
Um caminho para você começar a chamar a atenção de mais pessoas que simpatizam com a dor ou com o problema que você busca resolver é produzindo conteúdo. Para começar uma newsletter, por exemplo, você não precisa de muita coisa além de um nome para ela.
Quando comecei esta newsletter e não sabia quem era meu público alvo, tive uma boa sacada: entrei na comunidade do Deivison, do Vivendo de SaaS, e comecei a criar conteúdo naquele espaço, para ver se as pessoas engajavam.
A minha ideia de conteúdo eram duas: chamar a atenção, e criar uma reputação local na comunidade para me aproximar das pessoas.
Essa estratégia funcionou super bem, e assim eu consegui identificar pessoas que simpatizavam com o que eu estava propondo resolver e com a minha visão de negócio. Assim, comecei a me aproximar e ter abertura para conversar por mensagem ou video com a galera da comunidade, entendendo melhor meu ICP (ideal customer profile).
E essa estratégia não é só minha. Vejo várias pessoas fazendo o mesmo. Conheça abaixo o exemplo do Moacir, que montou uma newsletter (que eu recomendo)
Moacir postando sua newsletter com um call to action na dor do público alvo da comunidade.
O Moacir, neste caso, lança o conteúdo mostrando a dor como chamada, criando um rapport com as pessoas que têm a mesma dor e vão ler o artigo por curiosidade.
Moacir postando na comunidade do Deivison, Vivendo de SaaS. Mesma estratégia.
O Moacir acredita que seu ICP compreende desenvolvedores, então, ele entrou nas comunidades em que eles estão – neste caso, na nossa comunidade e na do Deivison – e compartilha seu artigo nesses espaços e começa a construir uma reputação.
Essa estratégia além de te abrir portas para você conversar com seu possível público alvo pode te trazer seus primeiros clientes.
Outro exemplo de empreendedor que fez isso muito bem foi o Tiago Costa, que começou a construir a Freelup em público e anunciar para as comunidades seu seu ICP estão (comunidade Sem Codar e MicroSaas) em seguida, e seu produto atende exatamente o mesmo público.
Canais de distribuição
Este filtro é muito importante também, valendo uma breve discussão sobre ele. Já falei sobre este tema no artigo abaixo.
Canal de distribuição ou produto. E como isso impacta seu Micro-SaaS.
Na prática, o que isso significa? Significa que, antes de você transformar sua ideia em um MVP, vale você refletir se sabe em quais canais poderia distribuir seu produto. Exemplos:
- Networking: você conhece alguém perto de você que talvez tenha a dor que você pretende resolver? Ter acesso fácil a estas pessoas encurta bastante o caminho, tanto na validação quanto para entrar no mercado.
- Fim de funil: seu projeto funcionaria em canais pagos? Canais pagos são excelentes para Micro-SaaS por serem rápidos de lançar ao mercado – diferentemente de uma estratégia de outbound ou SEO, em que tendemos a colher os frutos no médio/longo prazo.
- Por exemplo, se você tem concorrentes no mesmo nicho, isso significa que você pode analisar as campanhas que eles criam ou até mesmo fazer Google Ads em cima deles 😛
Esses exemplos são superficiais, mas, fica a reflexão. Você tem ideia de como vai distribuir seu MVP depois que o construir? Ou, conhece alguém que você possa conversar antes de fazer seu MVP? Pense sobre no seu canal antes de montar seu produto.
Timing e Cultura
Transformar uma ideia em um negócio implica em um lado menos pratica, diga-se de passagem, que precisa ser analisado, também.
Tem concorrentes?
Sua ideia tem concorrência? Essa ótica não precisa ser analisada de forma tão pragmática.
A concorrência pode se dar de várias formas. Pode ser uma solução parecida, mas para outro nicho, por exemplo. Ou também pode ser uma grande empresa que atende um mercado grande, mas deixa uma “rebarba” de clientes mal atendidos (normalmente, clientes pequenos que querem usar algumas poucas funcionalidades que deixam a desejar).
Mas, o mais importante é entender se existem empresas no mundo tentando resolver problemas similares ao que você está propondo – porque, se você não achar ninguém resolvendo, vale uma reflexão.
Existem 8 bilhões de pessoas no mundo. Será que você realmente foi o primeiro a ter essa ideia? Acho difícil. Normalmente, falta de concorrência é um sinal vermelho.
As pessoas pagam atualmente por uma solução?
Outro fator cultural que deve ser levado em consideração é se as pessoas pagam para resolver sua dor atualmente, mesmo que seja usando uma planilha de excel, papel e caneta, fazendo tudo à mão, ou usando um sistema completamente defasado.
Por exemplo, de nada adianta você tirar do papel uma ideia que as pessoas não estão habituadas a pagar pela resolução.
Claro, ser o first mover tem suas vantagens. Se a ideia realmente for simples e resolver um problema muito bem, com uma proposta de valor bem clara, a chance de você educar o mercado com sua solução torna-se muito mais simples.
Agora, se sua ideia não é tão simples e envolve desenvolver várias funcionalidades para construir um produto parrudo, e você não consegue falar em 1 sentença o que resolve, então você provavelmente pode ter dificuldade de fazer as pessoas pagarem pela sua solução.
Por fim, quero concluir este artigo deixando uma última reflexão.
Low hanging fruit
“Low hanging fruit” é uma expressão do inglês que significa “fruta de fácil alcance” ou “fruta ao alcance das mãos”. É uma metáfora frequentemente usada no contexto de oportunidades ou problemas que são fáceis de abordar ou resolver, requerendo pouco esforço ou recursos.
A expressão é derivada da ideia de que, em uma árvore frutífera, as frutas mais fáceis de pegar são as que estão penduradas nos ramos mais baixos, ao alcance imediato das mãos, enquanto as frutas mais altas requerem mais esforço para serem alcançadas.
Neste contexto, a ideia do “low hanging fruit” é tentar trazer ideias que sejam mais fáceis de você alcançar, ou seja, ideias que você possa validar rapidamente e que estejam ao seu alcance, tanto no âmbito técnico quanto no âmbito de validação e canais de distribuição (expectativa de retorno vs velocidade).
E se você não for um empreendedor técnico
E se você não for uma pessoa técnica, então, o exercício deste artigo será de grande valia, pois você só tem 3 opções disponíveis na mesa: ou aprende a desenvolver (no-code, por exemplo), ou contrata alguém, ou faz parceria na comunidade).
Em todos os cenários, sua ideia precisa estar bem madura para evitar retrabalho (e perder dinheiro), ou para aumentar suas chances de alguém topar entrar neste projeto com você.