Conheça os fundamentos de Micro-SaaS calmo.
Bruno Okamoto
14 Min de leitura

Os fundamentos de um Micro-SaaS calmo (Parte II de II)

No artigo anterior, falei sobre a jornada de um Micro-SaaS calmo, os tipos de negócios, investidores e objetivos.

A jornada do SaaS de alto crescimento

Como já falei em outro momento, a jornada de um Micro-SaaS calmo pode ser resumida em duas coisas: lifestyle business e principio do Pareto (80% das consequências vêm de 20% das causas).

E o que diferencia, então, esse MicroSaaS de um SaaS de alto crescimento, ou de uma startup?

Vamos entender antes o que é uma startup:

  • “Uma startup é um grupo de pessoas à procura de um modelo de negócios repetível e escalável, trabalhando em condições de extrema incerteza.”
  • “Ser repetível significa ser capaz de entregar o mesmo produto novamente em escala potencialmente ilimitada, sem muitas customizações ou adaptações para cada cliente.”
  • “Ser escalável é a chave de uma startup: significa crescer cada vez mais, sem que isso influencie no modelo de negócios. Crescer em receita, mas com custos crescendo bem mais lentamente.”

Na teoria, uma startup nasce e passa por várias etapas até se tornar uma “scale-up”, e o céu é o limite (ou o tamanho do seu bolso, no caso).

Fonte: Material Cassio Spina.

Normalmente, essas etapas são impulsionadas por rodadas de investimento em troca de participação societária no negócio (equity).

Fonte: Material Cassio Spina.

Uma startup, teoricamente, tem a capacidade de ganhar mercado muito rapidamente e, através do reinvestimento do lucro e do capital, pode se manter enxuta e crescer o produto e o time de vendas – criando uma estrutura escalável e repetitiva.

Mas, hoje em dia, montar uma startup não é trivial. Além da concorrência, está cada vez mais difícil crescer tão rápido e com qualidade. Apesar de o trabalho remoto ter expandido e o mercado ter criado várias formas de trabalharmos “async”, crescer um time e montar uma cultura focada no crescimento rápido e retenção de talentos não é simples. Por isso, crescer dói.

A ambição de montar uma startup é algo motivador, e a mídia deixa isso muito claro o tempo inteiro. Nos contam as mil maravilhas de captar milhões de reais, crescer, comprar outras empresas e expandir para outros mercado – mas ninguém mostra o dark side de montar uma scale-up.

Go big or go home”. / “Play hard. Work harder

Captar investimento, montar uma estrutura de governança, montar times ou escalar produtos são ações que requerem muita dedicação e incontáveis horas de trabalho (e dias que parecem não ter fim).

Não me leve a mal, não estou reclamando. Eu jogo esse jogo há 10 anos e sou apaixonado pelo ecossistema de startups. Mas, quando você está de fora, observando, tudo parece lindo e maravilhoso, embora por dentro o jogo seja estressante e com desafios muito intensos.

Então, por que ninguém fala sobre o outro lado, que é montar um SaaS calmo – um SaaS no qual o empreendedor pode montar um produto como um side project para ganhar uma renda adicional, e que, com calma, no futuro, pode se tornar até sua principal fonte de renda?

Por que não falam sobre essa jornada calma e sempre alinhada com os valores dos empreendedores? Não faz sentido?

A intensidade do crescimento: Micro-SaaS vs Startup scale-up

Pensei muito para escrever esta parte do artigo, mas a conclusão que cheguei é que a maior diferença entre uma startup e um Micro-SaaS não está no modelo de negócio, na velocidade do crescimento ou no faturamento. A diferença principal está na decisão do empreendedor entre ser rico ou ser rei.

Ser rico é montar um negócio para você. Ser rei é montar um negócio para o mercado, para os investidores, para seus funcionários. É o jogo do curto prazo vs longo prazo.

A verdade é que ninguém fica rico de salário. Ou você monta um negócio grande para ganhar tração e, futuramente, vender, ou você monta um negócio para você e durante a jornada, tira um pouquinho para pagar uma conta aqui e ali.

Low-Touch vs High-touch

Essas expressões são utilizadas no mundo das vendas para medir quantidade de esforço necessário para realizar uma venda. Um produto “low-touch” é um produto em que é necessário haver pouca interação humana para ser vendido, ou seja, o produto é “self-service”, auto explicativo e provavelmente mais simples.

Muito se fala hoje em Product Led Growth. Nosso parceiro Builders 2 Builders fala bastante sobre isso.

As dúvidas referentes aos produtos low-touch costumam ser respondidas por uma base de conhecimento, e todo contato feito pelos clientes normalmente é para tirar uma dúvida pontual ou sugerir uma funcionalidade.

Outro ponto positivo de um SaaS low-touch é o benefício imenso do boca a boca ou de programas de “afiliados”. A verdade é que é possível se beneficiar do network effect – tanto externamente, para aquisição de clientes, quanto internamente, para prover informações e suporte para o produto, ou criar um ecossistema de plug-ins, documentação compartilhada e integrações.

network-effect-revenue-stream

Já uma venda complexa, normalmente de produtos complexos, ou clientes maiores (enterprise), requer uma venda mais “high-touch”, ou seja, uma venda mais acompanhada e que depende de mais pontos de contato para ser realizada.

Um Micro-SaaS calmo não costuma trabalhar com vendas “high-touch” devido a essa demanda, porém, os poucos que trabalham e tem experiência com isso são favorecidos imensamente pelo benefício do alto ticket e do baixo churn – mas isso exige tempo e experiência do empreendedor.

Customizações e Cloud

Geralmente, negócios de SaaS buscam “configuração em vez de customização”. Explico: você, normalmente, vai procurar construir um produto que possa configurar para funcionar bem para eles. A partir do momento em que novas funcionalidades começam a ser demandadas, a complexidade do seu produto aumenta.

Um negócio calmo busca manter seu produto de uma forma mais simples, em que cada “configuração” deve servir vários e, logo, as funcionalidades customizadas passam a ser a regra da exceção. É mais fácil produzir novas funcionalidades que abracem todos os usuários do que customizar funcionalidades para alguns poucos.

Outra coisa relevante é que a quantidade de funcionalidades dependerá inteiramente do nicho em que você está atuando. Por isso, é interessante você investigar antes de montar seu MVP:

  • Há outros SaaS de benchmark? Quais funcionalidades eles possuem?
  • Quais integrações foram feitas e são padrões de mercado?
  • Isso é uma funcionalidade que todos se beneficiariam ou só um grupo?

Responder inicialmente a essas perguntas pode te ajudar a poupar muita customização.

Além disso, um empreendedor calmo busca ter um produto seguro com dados seguros. É muito mais saudável para o longo prazo montar um produto com boa segurança da informação para não ter problemas no longo prazo.

Saúde mental de um empreendedor calmo

Empreender já é difícil por natureza, e agora empreender sozinho (por ser um side project) pode tornar a jornada difícil e mais solitária.

Mesmo que grande parte do negócio esteja automatizado, você ainda precisa atender os clientes, fazer manutenção, redes sociais, participar da comunidade.. estudar .. você captou o ponto, né? Sem contar que terceirizar ou, eventualmente, montar um time, não vai muito na direção de ser um projeto calmo – podendo te levar até a um burn-out.

Construir um negócio calmo exige distribuir seu tempo entendendo que é um projeto que pode ser feito aos poucos e no tempo disponível. É um negócio que você entende que é um jogo de longo prazo, e a casa precisa estar arrumada para crescer saudável, assim como sua saúde mental.

Um SaaS calmo exige um equilíbrio constante entre vida pessoal e profissional.

O empreendedor caçador de ideias

Todo negócio precisa ser validado e toda ideia “desvalidada”.

Como assim, deslivadada? Explico: todo empreendedor que possui uma mínima experiência construindo projetos entende que uma ideia, no máximo, é um indicador de algo talvez maior.

Esse indicativo não significa que essa ideia vai dar certo ou que as pessoas pagariam por ela. Existe toda uma etapa de validação e, muitas vezes, de entrevistas, e de cavar até descobrir mais sobre seu público alvo e como esse público resolve as dores (e se pagam para resolver).

Em vez de construir uma ferramenta, um caçador de ideias busca validar negócios. Caça e valida oportunidades, cria hipóteses e busca diferentes meios de quebra-las. Essa validação costuma ser a geração dos primeiros leads para seu produto.

Veja mais sobre validação de ideias aqui.

Um caçador de ideias entende que antes de “desvalidar” uma ideia, existe uma etapa a ser feita até a formação e amadurecimento de suas hipóteses.

Construir uma solução errada para um problema errado pode tomar incontáveis horas.

Tony, um empreendedor de Micro-SaaS que tem 3 projetos rodando atualmente, diz que toda vez que tem uma ideia, não importa quão ruim seja, ele espera pelo menos 2 meses antes de construir algo – porque isso dá mais tempo para ele processar as informações sobre a ideia.

Outra forma que considero importante na validação de um negócio e na desvalidação de ideias é construir uma audiência antes de construir a solução do MVP.

Pela minha experiência, a ferramenta secreta do crescimento exponencial e alta retenção está na comunidade – e, para montar uma, é necessário juntar as pessoas que têm o mesmo problema em um lugar para que possam compartilhar informações e criar conexões reais.

Quase todos os nichos estão em algum grupo online, seja uma comunidade no Facebook, no Discord ou no Telegram. Se não tiver, melhor ainda, porque você tem uma oportunidade de começar a encontrar essas pessoas e convidá-las para o seu grupo.

Validar audiência (pessoas com as mesmas dores e sonhos) > Validar problema > Construir solução.

Esse é o formato mais barato e eficaz para você montar uma solução, que também, se torna seu maior evangelista, fideliza e gera valor para seu negócio. O primeiro passo é começar.

Don’t sell what you make. Make what sells.” – Arvid Kahl

Acredito também que esse processo de montar um negócio calmo é replicável. E todo novo lançamento é um laboratório de experimentos que levam ao aprendizado. Um MicroSaaS as vezes não gera renda, mas gera sabedoria.

Enquanto você jogar o jogo do longo prazo, e se torna mais experiente, encontrando uma jornada equilibrada, você vai perceber que caçar ideias e correr para testar e validar se tornará um hábito e eventualmente um processo. E uma vez formado este processo, você vai poder construir um, dois, três MicroSaaS. Ou montar um portfólio de MicroSaaS – falo disso aqui.

Abraçar uma comunidade e, genuinamente, servir e empoderar essa comunidade, ativamente escutando o que seus membros têm a dizer – encontrando problemas repetitivos – vai te gerar inúmeras oportunidades de criar diferentes soluções para esse grupo e para você.

Então, meu amigo empreendedor, tenha uma jornada calma.

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