Algumas dicas para você fazer suas primeiras parcerias.
Bruno Okamoto
13 Min de leitura
Como fazer as primeiras parcerias do seu negócio de Micro-SaaS

Governança, parcerias, negócios e Micro-SaaS

No artigo de hoje, quero falar sobre algo importante mas pouco discutido na comunidade de Micro-SaaS. Uma visão de negócios que vai além do produto ou do MRR.

Os Micro-SaaS são pequenos ativos em que investimos tempo (e dinheiro), além de energia para fazer crescer em faturamento e, consecutivamente, valorizar mais esse investimento – porém, esse ativo é uma companhia, que vai além da tecnologia e dos processos.

Governança abrange diversos temas, desde ideias, parcerias, sociedades, propriedade intelectual, gestão de freelancers, contratos, etc

Além disso, quando se faz parte de uma comunidade, é muito comum surgir pessoas e, com isso, oportunidades de negócios, visto que todos no mesmo grupo compartilham os mesmos interesses.

Este ano, estimo que pelo menos 10% a 20% de toda a comunidade vai lançar seu primeiro projeto. Se pararmos para pensar, estamos falando de algo entre 200 e 400 projetos nos próximos meses.

Governança para Micro-SaaS

Governança é associado com controle, poder, leis – palavras de peso e complexas, mas, como elas se relacionam com Micro-SaaS?

Governança nada mais é do que uma estrutura de gestão e regras (simples) para gerir seu negócio, emergindo em sua valorização como ativo.

Entender o básico pode ajudar o empreendedor a se resguardar, com algumas decisões importantes.

Fonte: Governança para startups & Scale-ups

Em cada etapa da construção do seu Micro-SaaS, existem diversos pontos relacionados à governança, como, por exemplo:

Ideação

  • Estrutura dos papéis e responsabilidades da sociedade;
  • Formatos de remuneração, contribuição e futuro aumento ou diminuição de participação;
  • Saída e descontinuidade de um sócio;
  • Gestão da propriedade intelectual (produto).

Esse exemplo é conhecido como Founder Agreement, ou seja, acordo de sócios. Entender o básico sobre isso pode fazer uma diferença tremenda na construção de um novo projeto.

Este artigo não é um guia de boas práticas ou recomendações. São algumas lições aprendidas no passado que eu acredito que fazem sentido para o empreendedor. Minha recomendação é que você procure um advogado, sempre.

Então bora para as dicas..

Meu Micro-SaaS, minhas regras

Quando um projeto é desenvolvido por você, dentro de casa, o controle é seu – o que te dá bastante segurança. Mas, em algum determinado momento de sua jornada, você entende que, por algum motivo, precisa de ajuda, seja de um freelancer ou até mesmo de um sócio para complementar suas habilidades e transformar a jornada em algo menos solitário.

Quando você chega nesse momento, várias dúvidas começam a surgir:

  • E se o freelancer roubar minha ideia?
  • Será que eu procuro um sócio comercial/desenvolvedor ou terceirizo?
  • E se esse novo sócio não trabalhar ou se dedicar o mesmo tanto que eu?
  • Como proteger as informações da minha empresa?

Minha recomendação é que você nunca saia em busca de um sócio. Encontrar sócios é igual casar – você não vai em um bar procurando uma esposa.

Antes do casamento, você precisa namorar a pessoa, ou seja, neste caso, precisa conhecer realmente quem é esse profissional, qual sua forma de trabalhar e quanto ele realmente se dedicará ao projeto.

O caminho ideal é sempre fazer um contrato de serviço, seja com um novo candidato à sociedade ou um prestador de serviço. No contrato, é importante contemplar 3 pontos: não concorrência, confidencialidade e propriedade intelectual.

Exemplos de cláusulas

Uma vez que o serviço anda bem e a parceria segue como o esperado (pelo menos 6 meses de trabalho juntos, eu recomendo), você pode caminhar para desenhar um acordo de sócios (Founder Agreement) – que é um simples documento, facilmente encontrado na internet – e fazer em conjunto com seu parceiro(a), sem a necessidade de registrar em cartório ou de ter um advogado. É um acordo de gaveta que combina como vai funcionar a sociedade.

Ninguém vai roubar sua ideia (ou todos vão)

“Não posso te contar minha ideia, porque ela ainda está em desenvolvimento e vai mudar o mundo.”

Escutei essa frase centenas de vezes na minha vida, e a verdade é que, nos últimos 10 anos construindo empresas, eu nunca vi uma ideia ser roubada. As pessoas são muito ocupadas para roubar uma ideia, além de que, ideia é só uma ideia. O que importa mesmo é a execução – afinal, a distância de uma ideia até a execução de um projeto é muito grande.

Aprendi que um dos melhores caminhos para você amadurecer e validar uma ideia é tirando ela da sua cabeça e expondo para seus amigos, familiares, para sua comunidade, e assim por diante.

Quanto mais você fala sobre sua ideia, mais você amadurece ela e recebe feedbacks que podem te ajudar a ter uma visão mais clara do que vai ser seu MVP.

Então, meu caro amigo(a) empreendedor, não perca tempo com esse negócio de se preocupar com alguém roubar sua ideia. E, se um dia isso acontecer, você provavelmente não era a pessoa certa para construir esse negócio, porque alguém foi lá e fez, enquanto você ficou parado na fase da ideia.

Construa pensando em vender desde o primeiro dia

Um conselho que sempre dou para meus mentorados é: construa seu negócio pensando em vender desde o primeiro dia.

Quando você monta uma empresa sabendo que você pode vendê-la no dia seguinte, isso te força a ter um olhar mais rígido com governança, com seus processos, com seus parceiros comerciais e com seus clientes.

Um ativo, no caso, seu Micro-SaaS, valoriza muito mais quando você está com a contabilidade em dia, quando a sociedade está redonda, quando seus clientes têm contratos com você, e quando seus fornecedores estão organizados.

A maravilha de um Micro-SaaS é que ele é um laboratório de experimentos e, como todo experimento, pode vir a falhar ou não atingir o resultado esperado, fazendo com que você possa querer vender seu negócio no dia seguinte.

Mas, para isso acontecer, é preciso que seu negócio esteja minimamente organizado, caso contrário, ele desvalorizará muito e você não conseguirá um comprador.

O que é deixar organizado? Alguns exemplos:

  • Ter contrato com todos os fornecedores e freelancers
  • Ter um termo de uso e política de privacidade
  • Cuidar da segurança digital do produto e dos dados
  • Ter a contabilidade em em dia desde o primeiro cliente
  • Não misturar as contas da pessoa física com a jurídica

E assim por diante…

Peça em namoro antes de casar

Supondo que você encontrou um parceiro comercial e quer trabalhar com ele, ou não queira seguir minha dica anterior de começar com um contrato de serviço, vou te dar algumas dicas sobre você namorar antes de casar com seu novo sócio(a).

Membro da comunidade que estava “namorando” outro membro

  1. Não entre no contrato social de uma empresa que já existe – às vezes, essa empresa já tem dívidas ou passivos que você não sabe, e você passará automaticamente a fazer parte dela.
  2. Alinhe muito bem as expectativas de entrega, tempo, esforço, investimento de tempo (e às vezes dinheiro), expectativas de retorno, distribuição de lucro e o que acontecerá com a sociedade no caso de um dos sócios sair.
  3. Trabalhe sempre com cliff e vestingcliff e vesting é uma forma de parcelar a sociedade. A cada mês que passa, o sócio ganha o direito de “x%” do capital social. Exemplo: a cada mês trabalhado, ganha 0,41%, e em 24 meses de trabalho, completa 10% do capital social.
  4. Tente o máximo possível ser MEI, se você puder. Sendo MEI, sua vida fica mais simples de gerir contabilmente e você pode faturar até R$ 81 mil por ano (e existe um projeto em aprovação que pretende aumentar esse valor para R$ 130 mil por ano).
  5. Não abra um CNPJ em conjunto em um primeiro momento. Se nenhum dos dois tem um CNPJ, então façam um, um dos sócios abre uma MEI, e então façam um acordo de sócios de gaveta para trabalharem juntos até eventualmente formar a sociedade.

Nota para o leitor: Não sou advogado. Esses conselhos são apenas alguns dentre vários de boas práticas de governança que costumo comentar com os empreendedores, mas, sempre recomendo que você tenha um advogado.

Além disso, também acho muito importante separar o que é pessoa física e pessoa jurídica desde o primeiro dia. Contas bancárias, cartões, ferramentas – faça tudo dentro de uma conta jurídica.

É claro que na fase de ideação, validação e MVP, não é necessário ter nada disso, mas, quando você lançar e tiver conseguindo seus primeiros clientes, acho que é o momento certo para você dar esse passo e deixar seu negócio redondo.

Você pode, por exemplo, usar um banco estilo Linker, que tem cartão de crédito pré-pago para contratar ferramentas. Você pode abrir conta online em vários bancos em questão de horas, abrir uma MEI instantaneamente online, e contratar um endereço fiscal, se necessário, sem sair de casa.

Tenha um mentor

Um mentor: é aquele que dá suporte e encorajamento para que a outra pessoa gerencie seu próprio aprendizado, maximize seu potencial, desenvolva seus skills, aprimore sua performance e se torne a melhor pessoa que ela possa vir a ser.

Além disso, o mentor também ajuda a te trazer uma perspectiva diferente da sua, mais ampla e externa, além da sabedoria de seus erros e acertos passados – diminuindo sua curva de aprendizado e te ajudando a poupar de decisões erradas ou que poderiam prolongar seu caminho (e custos).

São pessoas que, direta ou indiretamente, nos passam visões, sonhos, ideais, princípios, valores, atitudes, conhecimentos e sabedoria.

Originalmente, o termo mentor veio do grego, e se referia à figura mítica de Mentor, amigo e conselheiro de Telêmaco, que o apoiava enquanto o pai estava ausente na guerra de Tróia. Desde então, mentor passou a ser sinônimo de alguém que compartilha sua sabedoria, experiência e conhecimento com colegas menos experientes.

Tenha pessoas boas por perto do seu negócio. Na própria comunidade, você pode encontrar vários, assim como você também pode encontrar em outros lugares.

Você pode trazer essa pessoa como mentor/amigo, ou pagar pelo tempo e foco dela por um par de horas por mês para seu negócio. Algumas ideias:

  • Monte um comitê para consultar seu mentor a cada “x” tempo. Se estiver faturando, considere pagar um valor simbólico ao seu comitê;
  • Envie para ele atualizações, perguntas, desafios e acertos em um pequeno “relatório” por e-mail mensalmente;
  • Convide pessoas que você admire para conversar e se conhecer online. Você vai se surpreender com quanta gente boa está disposta a ajudar;
  • Um mentor não é só uma figura profissional, mas ele também pode te ajudar com o desafio de empreender. No final do dia, construir um Micro-SaaS é uma jornada muito solitária.

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