Mercado brasileiro de Micro-SaaS
Quais os perfis dos empreendedores deste mercado?
Até o momento, tive a oportunidade de conversar com bastante gente sobre o tema e montei 3 personas que acredito serem o perfil por trás destes empreendimentos.
1. O desenvolvedor Indie
Essa comunidade se encontra dentro de grupos do facebook, como Vivendo de SaaS ou no telegram como o grupo do Indie Hackers.
Esse desenvolvedor está buscando ter uma fonte de renda com seu trabalho. Ele tem um backlog cheio de ideias e projetos, e as vezes puxa um ou outro para desenvolver e conseguir seus primeiros clientes. O foco é sempre construir receita recorrente “passiva”.
Quando ele não consegue crescer o projeto:
- Deixar ele em standby no Github
- Se une com outros desenvolvedores para se ajudar.
- Faz cursos e tenta aprender sobre SEO e marketing geral
- O projeto crescer e ele se torna a renda principal do desenvolvedor.
Agora… quando consegue crescer…
Quando o projeto cresce e o empreendedor acha o famoso “problem solution fit” normalmente ele acaba ou saindo do trabalho atual ou buscando ajuda da própria comunidade para crescer seu projeto, fazendo cursos e parcerias estratégicas. Alguns, vão além. Transforma esse processo de montar e vender empresa em uma esteira. Ou montam mais 5 projetos porque tem um pagando toda operação.
2. O empreendedor early-stage
Empreendedores (em sua maioria desenvolvedor) que montou sua startup. As vezes solo, as vezes tem um sócio. Esse sócio nem sempre está “full-time” na empresa. Estão normalmente em fase de validação de mercado e produto. A jornada é quase sempre assim:
- de 0 a R$ 1.000: muito esforço e noites sem dormir para conseguir os primeiros clientes. Os empreendedores estão com sangue no olho nesta etapa.
- de R$ 1.000 – R$ 5.000: empreendedores já conseguem ter uma clareza do produto, do perfil dos clientes e das métricas. Conseguem entender o que faz sentido ou não.
- De R$ 5.000 – R$ 10.000: já acharam um canal, estão estressando ele para aprender o que funciona e não. Tentando descobrir como otimizar custo vs conversão.
- de R$ 10.000 – R$ 20.000: crescimento, crescimento, crescimento. O foco está em aproveitar este canal, entrevistar, feedbacks e melhorar sempre que possível o produto.
O que acontece nessa jornada que leva o empreendedor a se desmotivar e ou descontinuar o projeto:
- O tempo de um estágio para outro acaba sendo muito longo. Na EUNERD, demorei 3 anos para chegar em R$ 15k
- Acaba o dinheiro. Nem todos tem as mesmas oportunidades. Alguns empreendedores precisam se capitalizar mais que outros. Isso faz com que ele saia do projeto para arranjar um “emprego”.
- Não conseguem levantar investimento. Por qualquer que seja o motivo, as vezes até conseguem alguns anjos mas não é o suficiente para se qualificar perante um fundo. Lembrando que apenas 21% das startups no Brasil conseguem Seed e 1% Series A (fonte: abstartups).
- O empreendedor achou que em 1 ou 2 anos iria ter um unicórnio. Suas expectativas estavam muito altas (e não é culpa dele) e isso o frustou ..
3. A startup ligeira
Esta persona, acabei encontrando por acidente no mercado. Para ser sincero, acho que fazem parte de uma minoria. Normalmente a pequena empresa está focada em crescer e se consolidar no mercado. Em 99% das vezes, o caminho acaba sendo com foco em orgânico/pago mas em alguns poucos casos essas empresas optam por fazer micro aquisições de outras empresas.
Muitas vezes o interesse é: na base de clientes, nos empreendedores ou a ferramenta tem uma “funcionalidade ou outra” que complementa.
Uma nota sobre um quarto perfil: Os empreendedores não técnicos, sem experiência com tecnologia e que vão aprender a desenvolver ferramentas nocode. Não achei muita informação sobre esse público no mercado mas vale um estudo. Acredito ter muita gente aqui. Curiosos e executores que saem construindo.
Os Micro Private Equity
Estes já falei bastante. Mas a verdade, é que estão surgindo dezenas de novos. A minha tese, é que empreendedores experientes de vez montar uma empresa e por todos ovos em uma cesta, estão optando por comprar vários Micro-SaaS para ter um “pool” de MRR e crescer ele lentamente.
No Brasil não vi ninguém falando ou fazendo isso, mas com certeza deve existir. Só preciso procurar melhor. Se você conhecer alguém, me avisa ok? Adoraria entrevistá-lo(a).
O perfil dos Micro Private Equity podem ser quebrados em 3 categorias:
- Os MPE’s focados em Micro-SaaS até 150k ARR: Xo.Capital
- Os MPE’s focados entre 150k e 300k ARR: The MicroAngel Investment Thesis
- Os MPE’s focados em Small SaaS entre 500K e 15M ARR: SaaS.Group
Você pode ler mais sobre eles no meu Playbook na sessão BENCHMARKS.
Os marketplaces
Super aquecido. A MicroAcquire está bombando🔥.
Grande parte desse sucesso se dá ao meu entender por 3 motivos: Timing, cauda longa e porque o Andrew é um puta marqueteiro.
Quem são os compradores? Os que identifiquei até o momento:
- Pequenas empresas comprando micro empresas
- Devs indies vendendo e comprando entre eles
- Micros Private Equity firms
- Agências de marketing
Será que tem espaço para um MicroAcquire no Brasil?
Ainda tenho muitas dúvidas sobre o mercado e o timing mas de uma coisa eu sei: por ano surgem cerca de 46 mil novos desenvolvedores por ano (fonte: cnn), e atualmente são 14 mil startups (fonte: abstartups) e dessas apenas 21% conseguem pegar um investimento de seed round e 1% um Series A.
Que existe mercado existe. Mas será que existem compradores? Será que o processo de M&A pode ser tão simples quanto é lá fora? Será que a burrocracia pode ser automatizada? Será que existem empresas o suficiente para equilibrar oferta/demanda?
Minhas principais dúvidas na verdade, são:
- Onde estão as startups early-stage que querem vender sua empresa? Consegue trazer novas oportunidades todo mês?
- Onde estão os compradores de startups early-stage? Quem seriam?
- Como transformar o processo de M&A de uma micro startup em algo de prateleira com tanta “burrocracia” no Brasil?
Algumas coisas que eu sei
- A moda de crescimento a qualquer custo vai continuar em alta, porém muito empreendedor experiente está buscando menos dependência financeira de investidor e mais liberdade alinhada a qualidade de vida.
- Os marketplaces de M&A vão bombar – existe um oceano azul que as empresas e consultorias não fazem aquisições. Normalmente empresas abaixo de 15M são muito difíceis de vender por serem “pequenas”.
- Com o avanço da tecnologia no-code, muito empreendedor vai começar a testar MVP e tentar vender dentro desses marketplaces. Prevejo muita solução de cauda longa surgindo no-code.
- Empreendedores se juntarão em oferta coletiva para comprar vários Micro-SaaS para investir no crescimento de produtos que tragam receita recorrente com boa margem. No final, de 0 a 1 é mais difícil do que de 1 a 2. Micro Private Equity vai começar a bombar.
- Quando surgirem oportunidades para empreendedores early-stage venderem sua startup e o carimbo de “exit” não se tornar algo só para os gigantes, muitas portas se abrirão e um novo público vai surgir. Assim como foi o crowdfunding que está tomando cada ano mais força.