O equity de Micro-SaaS
Nas últimas semanas, refleti bastante sobre como montar este artigo. Quero trazer um pouco da minha experiência com Equity e minha visão de como é possível usá-lo ao seu favor no jogo do Micro-SaaS.
Equity é o pote de ouro no final do arco-íris dos negócios.
O que é equity
De acordo com o ChatGPT:
Equity é a participação acionária ou propriedade de uma empresa.
No mundo das Startups, o equity é uma forma de recompensar os fundadores e investidores pelo seu capital e esforço investidos na Startup, assim como uma forma de atrair e reter talentos por meio de programas de participação acionária para os funcionários.
O equity é especialmente importante porque, muitas vezes, a empresa ainda não tem um valor de mercado estabelecido. Dessa forma, o equity se torna um modo de distribuir o valor futuro da empresa entre os envolvidos, de acordo com sua participação acionária.
A proporção de equity que cada pessoa detém na Startup é determinada por negociações e acordos entre os fundadores, investidores e funcionários, levando em consideração fatores como o capital investido, o papel desempenhado na empresa e o potencial de crescimento.
No geral, a equity é uma parte essencial da estrutura de propriedade de uma Startup, sendo um incentivo para os envolvidos e uma forma de alinhamento de interesses entre os diferentes stakeholders da empresa.
Em resumo: equity é um pedaço de um CNPJ.
Na EUNERD, captamos algumas rodadas de investimento. Todas elas foram precificadas a um determinado valuation. Esse valuation constituía um reflexo do crescimento da companhia em receita, mercado, tecnologia e assim por diante.
Nas primeiras rodadas de FFS (friends, family and fools), o valuation normalmente é negociado informalmente, já que a empresa, por muitas vezes, nem CNPJ tem. Mas, nas rodadas seguintes, o valuation começa a ter uma base mais sólida de números e evidências.
Essa valorização do equity é o que faz aumentar a valorização das ações dos shareholders, ou seja, das pessoas que detêm equity da empresa. Por isso, muitas vezes, as Startups podem ter um alto valuation, o que não significa, necessariamente, que os fundadores estão ganhando dinheiro, porque o foco não está muito na jornada do empreendedor, mas na venda da empresa por um alto valor, no futuro.
Contudo… para um Micro-SaaS, não funciona da mesma forma.
Pense comigo: se um Micro-SaaS é um side project, e o empreendedor, normalmente, já tem uma atividade principal, então, receber um investimento para escalar um projeto pode acabar não fazendo muito sentido, dado o tempo escasso do empreendedor.
Pesquisa com a Comunidade de Micro-SaaS (4.2k participantes).
Se somarmos o total de pessoas que buscam mais renda (A), mais tempo livre (B), e diversão em aprender novas coisas (C), estamos falando de 43% dos empreendedores que lidam com Micro-SaaS em um projeto paralelo, ou seja, não tem grandes pretenções de construir um negócio de valuation, mas, sim, de geração de valor no curto prazo.
Isso significa que, para eles, o equity não se dá somente pela grana, mas para trazer algo que gere um valor agregadomaior ao empreendedor.
Talvez, para os outros 58% dos empreendedores, captar um investimento para mergulhar full-time no projeto seja uma boa alternativa. O investidor estará pagando o salário do empreendedor para poder lançar, validar e crescer seu SaaS, com foco integral.
Entretanto, para os outros 43%, talvez pular full-time não faça sentindo.
Então, qual é a percepção do equity para esses empreendedores? O que faz seus olhos brilharem?
Como funciona o equity de um Micro-SaaS
Na minha opinião, o equity de um Micro-SaaS está baseado na geração de valor que leva ao aumento do faturamento do seu negócio no curto prazo.
Esse valor pode vir através de vários formatos, como prestação de serviço, troca de habilidades, canais de distribuição (influencers, por exemplo), mentoria, networking, e assim por diante.
O empreendedor, por trabalhar sozinho, precisa descobrir perguntas e respostas de forma rápida, para assim focar no que importa, que é executar e estar presente para seus clientes.
Quando o investidor traz algum tipo de geração de valor para ele, que dá um norte, seja através de um canal de aquisição ou de uma vantagem comercial, de alguma forma – como, por exemplo, um dono de rede concessionárias faz parceria com um Micro-SaaS da área – esse valor encurta a descoberta de respostas e, consecutivamente, diminui o esforço intelectual do empreendedor, deixando-o mais confortável em focar na execução do business.
No fim do dia, equilibrar tantos pratos é um desafio grande para o empreendedor, então, poder tirar da frente algumas incertezas para focar na execução do que se faz bem e fazer crescer o faturamento do negócio é uma geração de valor muito forte.
Isso sempre foi muito claro para mim desde o início, e esse foi o principal motivo para o fato de que o maior foco cultural da comunidade é a troca de parcerias, geração de negócios e oportunidades.
Área de parcerias da Comunidade de Micro-SaaS.
Modelos de equity para Micro-SaaS
Eis alguns modelos que vi, participei ou ajudei a construir na Comunidade e na minha experiência. São exemplos de caminhos disponíveis para trabalhar com um empreendedor de Micro-SaaS.
Investimento por dinheiro ou empréstimo
Constitui-se em um aporte financeiro em troca de participação do projeto e participação dos lucros.
Micro-SaaS dá lucro desde o primeiro dia. A grande maioria trabalha com margens entre 70 e 85%, então, o foco não é crescer valuation, mas gerar valor financeiro aos sócios.
Empréstimo
O modelo de empréstimo é bacana, também, porque, quando o projeto já tem uma certa maturidade e previsibilidade, os investidores conseguem trabalhar com taxas atrativas. Nenhum banco quer trabalhar com negócios tão pequenos, mas investidores (PF) sim.
Eu mesmo tenho interesse em montar um braço de investimento e empréstimo dentro do meu grupo de negócios no futuro.
Nos EUA, existe uma companhia chamada FounderPath, em que os empreendedores de SaaS conseguem pegar empréstimo simplesmente conectando sua conta do Stripe com a ferramenta.
Parceria e sociedades por habilidades
O processo é bem simples, envolvendo parceria e troca de habilidades e especialidades de cada empreendedor.
Essa troca pode vir de várias formas. Estes são alguns exemplos:
- Influenciador de nicho faz parceria com um desenvolvedor que tem experiência em lançar e validar Micro-SaaS. Ou seja, canal de distribuição + produto.
- Reflexão: se você é desenvolvedor, saber todo o processo de ideação, validação e go to market é um diferencial para que faça parcerias de alto nível. Eu te ensino isso em meu framework de 8 horas.
- Um empreendedor com experiência em marketing faz sociedade com um empreendedor técnico. Ambos se beneficiam de suas expertises.
Poderia citar vários exemplos, mas, esse é o modelo mais comum de parceria. Essa troca beneficia instantaneamente ambas as partes. É o famoso “juntos, vamos mais longe”.
Esse modelo de parceria é o que mais acontece na comunidade atualmente, e é como os empreendedores se juntam para construir um projeto.
Mídia por equity (investimento + uso próprio + distribuição)
Esse modelo é um dos meus favoritos. É a troca de equity por uma parceria estratégica, seja ela com um influenciador, com uma empresa, ou com pessoas que te levam até onde seus clientes estão.
Vou aproveitar este post para anunciar publicamente uma parceria de Midia por Equity que fizemos no nosso Micro-SaaS MGM com a Nups – a holding de Micro-SaaS do Jonatan Fróes.
Nessa parceria, vendemos 10% do equity do nosso projeto para a Nups, em troca de um aporte financeiro e um cross-sell na base de seus clientes, que são o mesmo público alvo do nosso projeto.
Além do aporte e da troca de bases, atrelamos uma meta em que, a cada R$ 100 mil reais em faturamento líquido que ele trouxesse, teria uma bonificação de equity, podendo chegar em até +5% adicional.
Esse tipo de parceria acaba sendo muito estratégia e gera um valor enorme para todos os envolvidos.
Outro exemplo desse modelo é um infoprodutor que faz parceria com um Micro-SaaS que já está rodando, para se tornar um canal de distribuição recorrente, uma vez que vira sócio.
Prestação de serviço por equity
Trata-se de um modelo híbrido de pagamento. Os empreendedores pagam uma parte do serviço em dinheiro, e outra parte em participação do negócio.
Para o prestador de serviço, é uma boa oportunidade de ter participação em um projeto em que ele acredita, e que no futuro possa lhe trazer uma renda adicional, sendo que, no pior cenário, ele vendeu seu tempo “mais barato”. É um risco controlado para ambas as partes.
No mundo das Startups, trocar equity por serviço, até alguns anos atrás, era de certa forma normal. Já vi algumas empresas trocarem equity por serviços específicos, mas, de um tempo para cá, essa modalidade passou a diminuir, e hoje apenas fornecedores mais estratégicos têm acesso a essa opção.
Já para empreendedores solo, por muitas vezes falta alguma skill no deck de construção do projeto, como, por exemplo, desenvolvimento de back, front, landingpage, copy, etc. – e os empreendedores acabam tendo que recorrer a serviços de terceiros, às vezes, com pouco orçamento disponível.
É importante lembrar que prestação de serviço sem pagamento não é prestação de serviço. No caso, se você trocar seu tempo (habilidade) por equity, isso significa haver uma sociedade, e a conversa precisa ser outra.
Isso me leva ao próximo tópico.
Conhecimento/networking por equity
Às vezes, aprendemos com alguém algo que muda completamente o patamar de nossos negócios. Ter acesso a esse tipo de conhecimento tem um preço – seja ele uma mentoria, um curso, uma pessoa ou uma empresa.
Esse modelo no mundo das Startups é conhecido como advisor. O advisor tem o papel de dar conselhos estratégicos para a empresa, e é remunerado com uma pequena participação, que varia entre 0% e 1%.
Já para o empreendedor solo, ter acesso a conhecimento e networking tem um valor muito alto, uma vez que gera o valor da economia do tempo, que já mencionei anteriormente.
Exemplo de um empreendedor que me procurou para pedir conselho sobre como trazer outro empreendedor como advisor em troca de equity. Esse conhecimento do advisor trouxe um contrato de R$ 10k de MRR.
Como um Micro-SaaS tem esse poder de ser um side project para 43% da Comunidade, trocar equity por conhecimento e networking é um preço muito justo, considerando a possibilidade de se desenvolver mais rápido como profissional.
Esse modelo funciona super bem, e é o mesmo modelo que fiz com meus amigos Luiz e Zeca, do Painel.Deals da Comunidade Privada.
Qual é a matemática para você investir em Micro-SaaS?
Essa sessão dedico aos investidores e empreendedores de plantão, que pensam em investir em Micro-SaaS.
O raciocínio é simples: um empreendedor, que muitas vezes não tem experiência em montar um negócio, tem uma ideia boa e muita vontade de fazer acontecer.
No mundo dos empreendedores early-stage, o risco acaba sendo um pouco maior, principalmente pelo fato de o empreendedor estar tocando aquele projeto como um side project, ou seja, se não der certo, suas perdas não são tão significativas.
Isso muda bastante coisa no jogo do capital de risco, afinal, como vamos apostar em ter um retorno alto se a tolerância, por muitas vezes, é pequena?
Por isso, ao meu entender, uma parceria de sucesso para um empreendedor de Micro-SaaS precisa ser feita na base da geração de valor mútua para que ambos se beneficiem financeiramente no curto prazo.
Tudo se trata de geração de valor. Assim, como o empreendedor de Startup precisa gerar valor para seus acionistas, o investidor, no caso, precisa gerar valor para o empreendedor indie.
Muitas vezes, esse valor tem várias formas, e sua percepção vai de acordo com a necessidade no momento. Por isso, cabe ao investidor descobrir qual é esse valor que ele pode gerar para o empreendedor para que essa parceria dê certo.
Se você estiver somente buscando aporte financeiro, provavelmente irá se frustar, porque, no caso do dinheiro por dinheiro, talvez o valor gerado seja menor do que o empreendedor espera – que são respostas que gerem economia de tempo ou aumentem o faturamento do negócio.
E o que me deixa instigado é que, no ecossistema de Micro-SaaS, quem tem que sair buscando para investir são os investidores – bem diferente do que acontece no ecossistema de Startups, em que os empreendedores tratam os VC’s como se fossem reis.
Não existe um local de investimento ou um hub, um sindicado ou um grupo de investidores de Micro-SaaS. Existe, claro, muitos interessados em busca de oportunidades, mas são exceções.
O Status Quo do ecossistema de Micro-SaaS é os investidores irem atrás dos projetos. E a boa notícia é que eu criei um lugar para ajudar a encontrar projetos na Comunidade. O primeiro diretório de Micro-SaaS do Brasil.
O que você precisa saber para fazer uma parceria de sucesso?
Outro ponto que eu acho legal ressaltar neste artigo sobre parcerias e equity é a importância do alinhamento de expectativas, dedicação e responsabilidades.
Lembrando: não sou advogado, tampouco tenho profundo conhecimento jurídico, mas aprendi um par de coisas sobre governança e sociedade em minha jornada profissional, e algo que eu digo para vocês é que qualquer parceria precisa ser muito bem alinhada.
Algumas ideias de tópicos para vocês conversarem:
- Quem é o líder do projeto? Se chegarem em um impasse, quem tem a palavra final?
- Quais são as responsabilidades de cada um? Vendas, marketing… é muito genérico. Quanto mais específico for, melhor.
- Como vai funcionar a participação e distribuição dos lucros?
- No MGM, decidimos distribuir lucro somente depois de atingir R$ 5k de MRR (faturamento mensal recorrente).
- O que acontece se um sócio quiser sair da sociedade?
- No caso do MGM, definimos que, se um sócio sair, a valorização das ações dele será feita com base no EBITDA do Micro-SaaS.
- Propriedade intelectual e não concorrência: de quem é a PI?
- Qual é a dedicação de tempo de cada um?
- Se um sócio for trabalhar mais do que o outro, é sempre justo ou ele ter equity ou ser remunerado por isso.
A tendência de o projeto dar errado se vocês não alinharem as expectativas desde o início, e simplesmente saírem construindo, é muito alta. Como qualquer casamento, uma sociedade precisa de tempo para ser construída e, muitas vezes, vocês não têm esse tempo. Então, o caminho mais simples é sentar e ter uma conversa honesta.
Como tenho vários projetos com diversos empreendedores, busco sempre fazer um acordo de sócios com os empreendedores, formalizando isso através de e-mail em um documento bem simples, de 1 página.
Isso deixa com que o projeto e nossas expectativas estejam bem redondas desde o primeiro momento, ficando mais fácil encontrar um ritmo de trabalho assim. Além disso, nesse documento vocês podem discutir sobre gatilhos como Vesting e Cliff, que parcela o ganho de equity e, caso um sócio saia do projeto, possa ganhar proporcionalmente ao tempo trabalhado.
É claro que eu recomendo que vocês sempre busquem um advogado, mas, a mensagem que carrego aqui é de que o combinado não sai caro, e você não precisa, muitas vezes, antes de validar a ideia, investir em um advogado. Uma boa conversa e um e-mail formalizando os detalhes costumam resolver, no início.
E, por fim, quero deixar aqui uma última reflexão
Minha visão sobre os próximos 12 meses deste tema
→ Prevejo a entrada de muitos novos investidores (muitas vezes, empreendedores de Startups com dinheiro). São empreendedores que querem pulverizar sua fonte de renda, além de entrar como sócio e ajudar com sua experiência e conhecimento.
→ Prevejo empreendedores de Micro-SaaS que estão ganhando dinheiro com seus projetos reinvestindo capital em outros projetos estratégicos, que possam ser acoplados de alguma forma a sua audiência, gerando um cross-sell de receita para ambos os projetos.
→ Pequenos fundos de Micro Private Equity vão surgir e tentar descobrir um modelo de negócio para comprar e/ou investir nesses projetos, e ter um modelo rentável desde o primeiro dia.
→ Muitos Micro-SaaS vão amadurecer e começar a participar de programas de inovação em vários lugares do país. É um processo natural, e muitos projetos vão crescer e se tornar grandes Startups de sucesso nos próximos anos.
→ Micro-SaaS vão se tornar mais “visíveis no mercado”, e os fundadores vão começar a ser assediados por investidores, principalmente os que fizerem BuildinPublic. Eles vão ter o poder de aceitar esse dinheiro para acelerar o crescimento de seus projetos, ou não.
→ Canal de distribuição + Micro-SaaS é o casamento perfeito. Quem tem audiência (principalmente de nicho) consegue trazer muitos empreendedores bons para montar parceria e beneficiar ambos. É um ganha-ganha de sucesso!
→ Esse é um dos principais motivos que muitos infoprodutores estão se aproximando da Comunidade. Estão buscando oportunidades de parcerias com bons empreendedores.
Na minha visão, esse mercado vai crescer muito nos próximos anos, então, bora surfar a onda 🏄🏽♂️.
Aprender a validar uma ideia, desenvolver um MVP e crescer seu projeto são habilidades essenciais para entrar no mundo do equity. Quanto antes você aprender, maior será sua chance de sucesso e maior será a valorização do seu equity.
Se você consumir meus artigos e meus vídeos no YouTube, você já terá todas as ferramentas para aprender o processo. Mas, se preferir, eu tenho um passo a passo junto a um grupo de empreendedores de alto nível. É só clicar aqui para saber mais.