O lifestyle dos Indie Hackers
Acompanho o ecossistema Indie há alguns anos. A verdade é que os Indie Hackers não são nenhuma novidade. Esses caras já tiveram vários nomes, também já foram chamados de nômades digitais ou de boostrapped founders, mas, no fim do dia, são empreendedores como qualquer outro. A diferença consiste no ecossistema em que estão inseridos.
O ecossistema Indie sempre foi um ecossistema mais “underground”, digamos assim, e as pessoas por lá sempre foram muito unidas. São vários empreendedores pelo mundo todo trocando experiências e ajudando uns aos outros em seus projetos.
Com este artigo, a minha ideia é, desde o primeiro dia, trazer um pouco sobre este ecossistema, e tentar “tropicalizá-lo” para nosso ecossistema, pois acredito piamente que temos muito a ganhar com essa cultura mais Indie.
Para começo de conversa… o que é Indie Hacker?
O termo indie vem de “independente”, e o termo hacker remete a alguém que gosta de criar soluções inteligentes e inovadoras (não, não é sobre invadir sistemas!).
Juntando essas duas coisas, tem-se a ideia de que o Indie Hacker é um empreendedor independente, que faz tudo por conta própria, e não depende de altos investimentos ou de uma equipe grande.
A grande diferença entre o Indie Hacker e os empreendedores tradicionais é que os Indies buscam crescer de maneira sustentável e orgânica, sem presa para captar investimentos e escalar.
Sua vantagem, por sua vez, é usar de suas próprias habilidades tanto para criar como para sustentar seus produtos. É por isso, normalmente, que trabalham sozinhos ou em pequenas equipes.
Em resumo, o Indie Hacker é aquele cara que desenvolve e lança infoprodutos e Micro-SaaS de forma independente!
E quem são esses empreendedores Indies?
A comunidade de Indie Hackers é bem diversificada. Normalmente, é composta por desenvolvedores, designers, escritores, entusiastas de tecnologia, ou qualquer outro profissional liberal que tem uma ideia e a coragem de colocá-la em prática.
Como ser Indie Hacker não implica em ter um emprego fixo, um lugar de trabalho, ou qualquer coisa que tenha a ver com uma vida profissional tradicional, o lifestyle dos Indies tem muito a ver com liberdade e flexibilidade. Eles são os famosos “nômades digitais”.
Não à toa, vários Indies trabalham de onde quiserem – desde a sala de casa, até um café de qualquer país do mundo.
Alguns exemplos de Indies conhecidos por aí são:
- Pieter Levels – criador do Nomad List e Remote OK, que viaja o mundo desenvolvendo suas plataformas;
- Nathan Barry – fundador do ConvertKit, que transformou seu projeto inicialmente pequeno em uma empresa milionária;
- Arvid Kahl – fundador do FeedbackPanda (ferramenta para professores online), que escalou um produto até alcançar US$ 50k de MRR;
- Courland Allen – fundador do site Indie Hackers (comunidade em que os Indies compartilham suas histórias e aprendem uns com os outros);
- Simon Hoiberg, Danny Postma, Tony Dihn, Damon Chen, também são outros nomes famosos do ecossistema.
👉🏽 Tenho um estudo de caso do Tony Dihn
Montando audiência e vivendo de Micro-SaaS
Filosofia Indie
Bom… considerando esse lifestyle de nômade digital que caracteriza os Indie Hackers, sua filosofia de vida não poderia envolver nada diferente de independência, criatividade (foco no produto), e sustentabilidade.
A ideia primordial é construir negócios que sejam lucrativos, de forma prática e simples, com pouco esforço. E tem mais: precisam ser projetos que os apaixonem – afinal, o interesse pelo negócio é o que faz valer esse investimento de tempo.
O foco de todo Indie Hacker é atingir o Ramen Profitable, que é basicamente conseguir dinheiro o suficiente para pagar um miojo no mês.
Nesse sentido, o preceito básico é não depender de investimentos externos, no sentido em que depende somente deles o crescimento orgânico de seus produtos.
Para isso, dois pontos são de extrema importância:
- Qualidade do produto;
- Satisfação do cliente.
A ideia é simples: começar pequeno, almejar crescimento, e crescer organicamente, de forma sustentável.
Mas, e na prática, o que significa isso?
Significa você lançar um projeto que resolva um ou dois problemas muito bem, sem se preocupar com a escala, ou com criar grandes audiências, mas, sim, dar pequenos passos gerando valor para uma base fiel de clientes. Esse é o maior objetivo de todos Indies.
Alguns exemplos de Indie Hackers ilustram a filosofia de vida que seguem.
🧑🏽💻 Daniel Vassalo, ex-funcionário da Amazon, deixou seu emprego na Amazon para apostar em uma carreira de Indie Hacker – e na sua própria independência. E deu certo. Ele lançou produtos como o Userbase, que é uma solução de autenticação para aplicativos.
🧑🏽💻 Jon Yongfook, criador do Bannerbear, usou da sua criatividade para oferecer um serviço de automação de geração de imagens. Começou pequeno, e usou o feedback dos usuários para crescer sua base de clientes de forma orgânica, focando na qualidade do produto.
🧑🏽💻 Mark Kohlbrugge, fundador do Beatlist e WIP, foca em produtos que gerem receita desde o primeiro dia – ou seja, que sejam sustentáveis. Ele evita colocar grandes investimentos nos produtos, e segue o preceito de crescer devagar, dando prioridade à estabilidade financeira.
Multipreneurship por Greg Isenberg.
E dentro desse ecossistema, temos algumas outras verticais de pensadores que também vieram do ecossistema Indie, como o Greg Isenberg, que traz bastante o conceito do Multipreneurship, que consiste basicamente na ideia de empreendedores que lançam múltiplos produtos que viram várias empresas.
Prós e contras de ser um Indie Hacker
Como tudo na vida, ser um Indie Hacker tem suas vantagens e desvantagens. Vamos entender algumas delas.
Vantagens
- Liberdade: é possível trabalhar de qualquer lugar mundo, e fazer seus próprios horários de trabalho;
- Autonomia/Controle total: é você quem toma todas as decisões sobre o seu produto, sem qualquer interferência;
- Crescimento orgânico: como o foco é na qualidade do produto e na satisfação do cliente, o crescimento acontecerá, consequentemente, de forma orgânica;
- Relação direta com os clientes/usuários: a interação direta com os usuários permite que você tenha feedbacks mais rápidos, certeiros e personalizados;
- Baixo risco financeiro: além de o investimento não ser alto, não há pressão de investidores (já que não há investidores externos envolvidos na criação e manutenção do produto).
Desvantagens
- Isolamento: trabalhar sozinho pode ser solitário (para evitar isso, você pode fazer parte de comunidades);
- Risco de burnout/alta carga de trabalho: como a responsabilidade total recai sobre você, isso pode ser um tanto estressante;
- Recursos limitados: como você está sozinho, sem investimentos externos, os recursos são limitados e, consequentemente, o crescimento pode ser mais lento;
- Incerteza: não há garantia de sucesso, e certamente pode haver grandes desafios ao longo do caminho.
Como entrar no mundo dos Indie Hackers
Transforme sua ideia em um pequeno negócio rentável.
É como eu sempre falo sobre os Micro-SaaS, você precisa ter uma ideia – querer resolver uma dor de alguém. Então, identifique um problema.
Encontre algo que você e/ou outras pessoas enfrentem, e que você possa resolver de alguma forma, com alguma solução. A ideia pode ser a criação de um aplicativo, de uma ferramenta online, de um serviço, enfim… há inúmeras opções.
E meu discurso não muda: comece pequeno. Crie um MVP (Minimum Viable Product) e teste a sua ideia. Desenvolva uma versão básica. Não precisa apostar tudo no primeiro momento, porque a ideia inicial é testar sua ideia no mercado e ver se “vinga”.
Depois disso, lance rapidamente. Não fique esperando a perfeição. Lance rápido, para depois usar o feedback dos seus usuários para ir aperfeiçoando seu produto, até chegar na forma mais refinada.
Ah! E você não precisa saber desenvolver, já que hoje temos várias opções no-code, como o Bubble ou Webflow. Então, utilize as ferramentas no-code para facilitar a sua vida.
Enquanto isso, e não menos importante, faça parte das comunidades de Indie Hackers. Assim, você se mantém atualizado, além de aprender com outras pessoas que estão em jornadas muito parecidas com a sua.
Em resumo, a jornada é a seguinte:
- Identifique um problema;
- Crie um MVP;
- Lance rapidamente;
- Utilize ferramentas no-code;
- Faça parte de comunidades.
Por onde começar?
💡 Fiz um curso grátis, de 2 horas, para ensinar a você o passo a passo de como validar uma ideia, construir e lançar seu primeiro MVP.
E captar ou não captar investimento?
Como eu já disse, a maioria dos Indie Hackers prefere crescer de forma orgânica, sem captar grandes investimentos. Assim, eles detêm do controle total dos seus projetos.
Contudo, alguns optam por captar investimentos (em pequena quantidade) para acelerar o desenvolvimento do produto ou o marketing, mas isso não tira o mérito de ser um Indie Hacker.
Existem fundos específicos que investem em negócios boostrapped, mas, que não pegam equity em troca (ex: calm fund), ou investidores anjos que querem participação do lucro.
Os maiores desafios da jornada Indie
Como em qualquer jornada, a jornada dos Indie Hackers também tem vários desafios. Além de todas as desvantagens que eu já trouxe neste texto, há ainda o fato de que é preciso estar a todo tempo se atualizando a aprendendo novas habilidades para que consigam se adaptar às mudanças constantes do mercado.
E também, fazer a própria gestão de tempo não é algo tão simples. Como os Indie Hackers precisam estar sempre preocupados com as tarefas menores que estão envolvidas na criação, na manutenção e no aperfeiçoamento de seus produtos, podem acabar deixando de lado o objetivo principal do negócio. Sem contar que as vezes é realmente estressante lidar com tanta coisa ao mesmo tempo – a curva de aprendizado para quem não tem experiência costuma ser lenta.
E enfim, não posso deixar de mencionar a concorrência intensa que existe nesse mercado. Como muitas pessoas se interessam pela liberdade que a carreira de Indie Hacker proporciona, a competição é um fator que sempre vai existir e, por conta disso, é preciso que haja um investimento constante em se destacar no mercado e atrair usuários.
O ecossistema Indie é uma grande comunidade pública
O ecossistema Indie não existe em um lugar específico. Eles estão no Twitter, no LinkedIn, no Reddit, no Youtube, e por aí vai. O fato é que os empreendedores estão sempre trocando experiências, fazendo networking e ajudando uns aos outros para crescerem juntos.
Aqui no Brasil, decidi construir a Comunidade de Micro-SaaS para se tornar o nosso ecossistema Indie. Você já faz parte?
Empreender não precisa ser uma jornada solitária.
Erros mais comuns dos Indies iniciantes
Alguns erros são muito comuns na jornada dos Indie Hackers. Não cometa esses erros:
- Não validar a ideia antes de começar: faça um MVP e valide sua ideia junto ao seu público-alvo – isso evita investimentos desnecessários;
- Focar demais no produto e pouco no marketing: um produto não se vende sozinho, portanto, não esqueça da distribuição;
- Não pedir ajuda: tentar fazer tudo sozinho é loucura – burnout na certa. Busque ajudas e feedbacks;
- Subestimar a concorrência: faça sempre uma pesquisa de concorrência para entender o mercado;
- Não se planejar financeiramente: tenha um plano financeiro claro para evitar surpresas desagradáveis.
Minha visão do ecossistema brasileiro de Indie Hackers
Acredito que a Comunidade de Micro-SaaS vai crescer muito, mesmo, principalmente pela junção do espírito empreendedor, da necessidade e da resiliência dos brasileiros.
É claro que o termo Indie deve se adaptar em cada país, e aqui não é muito diferente. Não creio que a menina dos olhos para os brasileiros seja a ideia de viver como um nômade digital, mas, sim, a possibilidade de construir algo para chamar de seu e que gere uma renda extra.
O conto das Startups inspirou muitas pessoas, mas, a barreira de entrada e a dificuldade de lançar uma Startup fez com que muitas pessoas ficassem com receio. Agora, a possibilidade de construir algo menor, mais enxuto e nichado, traz novas oportunidades – principalmente pelo fato de ajudar na geração de renda extra.
Já foram +1.500 Micro-SaaS lançados na Comunidade até agora 🚀 O segredo? Começar pequeno, estar dentro do ecossistema, e entender que a jornada é de longo prazo.